nome: Maria Fernandes Campaniço
ano de nascimento: 1911
local: Sobral da Adiça
freguesia: Sobral da Adiça
concelho: Serpa
acervo: António Ferreira Lopes
transcrição:

Um pai dum senhor que estava já casado e a nora nã’ o qu’ri’ em casa –– ô sogro.1 E então tant’ apoquentou o filho, qu’ o filho pegô numa manta e num burro e foi levar o pai p’rô mato. Foi esconder o pai no mato p’ra ficar lá e os bichos o comerem. E então foi conversando com o pai até lá e o pai conversando com ele. E além cando2..., disse:

–– Tom’ esta mantinha p’ra se tapar, pai.

O pai foi e partiu a manta ô meio. Diz:

–– Toma lá filho. Metade desta manta p’rôs tês filhos te fazerem no mesmo.

E o filho teve pena e chigou ô meio do caminho e voltou a fescar o pai. Lembrô-se daquela coisa (...) da ámetade da manta. E voltou p’ra trás foi fescá-lo. Chegou a casa com o pai. Mas ela, que nã qu’ri’ ô pai, a nora, garreou com ele, e disse-lhe tudo ruim, e o velhote disse:

–– Nã tenhas medo! Nã tenhas medo qu’ ê nã t’ ap’quento. Ê vou correr o mundo, mas vou ê sozinho. Nã fico no mato p’rôs bichos me comerem. Com o pedacinho de manta que vocês me derom, ê vou correr o mundo. –– e disse que se foi embora, desapareceu. Nã sabem depois o que ele…, foi feito dele.

 

1- Deve entender-se “ao sogro”.

2- “Quando”. Também realizado: “condo”.