O Coelho
Era um coelho. Vivia tão triste, tão triste, tão triste, tão triste, coitadinho! Já não sabia o que havia de fazer à vida! Eram as raposas, eram os lobos, eram os caçadores! Era tudo! Tudo queria era comer o pobre do coelho! E o coelhinho, coitado, cheio de sede, cheio de fome.
Coelho – É pá! Uma ribeira ali tão perto, tão boa a água! Mas como é que eu lá chego?
Estudou a maneira... Estava já tão cheio de fome e tão cheio de sede... Descobriu.
Coelho – Espera aí! 'Tão ali umas colmeias, têm mel. E eu vou lá, emborralho-me no mel e rebolo-me nas folhas e hei-de arranjar um capote!
Tal e qual! Chegou lá, rebolou-se no meio lá de uma colmeia, cobriu o pêlo de mel, rebolou-se no chão, tapou-se de folhas e aí foi ele! Chegou-se à ribeira, ali é que foi beber água!
Chegou a raposa ao pé dele:
– Ó compadre folharascas! Bom dia, ó compadre folharascas!
Ele olhou pra ela.
Raposa – Eh, compadre folharascas! Atão 'tás com sede? – Nada!
Disse a raposa:
– Hmmm... És muito esperto, mas a mim não me enganas tu! 'Tás aí com um belo sobretudo novo... Deixa que as abelhas já te vêm dizer como é que é!
Coelho – É caramba! – O coelho pensou. – Agora vêm as abelhas e o que é que me fazem?!
Fisssst! Começou a fugir. Acabou por morrer da mesma maneira, porque é tão simples o coelhinho, coitadinho! Nem soube ser compadre folharascas! Assim morreu miseravelmente, não 'teve habilidade para se defender!
Maria Augusta, 75 anos, Mora, (conc. Mora), Junho de 2007.