O cão, a vaca e o burro
Este é já muito velho! É quando os animais falavam.
Foi obrigado a tirar uma licença para os cães. Antigamente na’ havia! Tinham que ter licença e tinham que andar açaimados e a’pois mais tarde veio, daí a poucachinho tempo, pra andarem também *com um pau à rojo*(1).
Vê que os animais ainda falavam nesse tempo. E juntou-se o cão e uma vaca e um burro. Juntaram-se os três e começaram a conversar. Disse o cão assim:
– Tenho que me ir embora! Tenho que me ir embora aqui de Portugal, que eu aqui não me posso governar! Vou-me embora para outro país qualquer, mas tenho que me ir embora daqui.
Disse-lhe a vaca:
– Então e vais-te embora porquê?
Cão – Vou-me embora porque para andar em Portugal preciso de uma licença. Tenho que andar açaimado e com um pau à rojo (atado ao pescoço com uma corda). Então vou-me embora de Portugal.
E disse a vaca pra ele:
– Pois eu também vou contigo! Vamos os dois.
Disse-lhe o cão:
– Então e tu vais porquê?
Vaca – Porque aqui em Portugal ‘tá tudo fino na mão e eu não posso dar mama a tanta gente! E então vou-me embora também.
E disse o burro assim:
– Pois eu não me vou embora!
E disseram os outros:
– Então e tu não te vens embora porquê?
Burro – Porque tenho visto outros muito mais burros do que eu serem advogados e eu ainda espero ser alguma coisa!
E eu ‘tou desconfiado que já falta pouco para porem algum burro lá no governo! Este também ‘tava bom!»
Francisco Galamba; 84 anos, Ficalho, (conc. Serpa), Fevereiro 2006.
Glossário:
(1) Com um pau: = trambolho (?) – pau que se colocava no pescoço dos cães para que não corressem em exagero atrás das ovelhas.
(2) Fino na mão: não quer trabalhar.
Para execução deste glossário consultou-se o website: http://www.priberam.pt.