Inventário PCI

A bicharada

Mora

"A bicharada" - Da (in)disposição de alguns animais em dia de São Martinho.

Luísa de Jesus; Mora; Concelho de Mora, Évora

Registo 2007.

Conto cumulativo (não classificável).

 

Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Julho de 2007.

Transcrição

Bicharada

 

Olhe, era da bicharada. Ele disse assim, dizia assim:

– Eu hoje 'tou muito apoquentado!

– Atão? Porquê?

– Porque deixei o sardão de cama, ca cabeça escavacada! Dei-lhe um saco de tanta pancada... – Que atirou com ele à lama.

E salta a minhoca de fama, visto de uma cama que até dobra! E dizia:

– Se este barulho n' acaba, ainda aqui trago más obras!

Salta a mérula lá da ramalheira, num macaco aos sopapos! Era dia de São Martinho, ela já estava com a bebedeira, e toca no macaco aos sopapos. E o que é que acontece? Ao macaco ardiam-lhe os sopapos e dizia:

– Olha! Atão quando este buliço armou... Houve bastante razão pra isso!

Mérula – Foi por causa de um ouriço que comeu e na' pagou!

Vem de lá a cobra! Vem de lá a cobra e enrresta co cuco. E o cuco disse assim:

– Olha, eu agora vou aqui fazer uma açudeca! Olha, vou espetar o biquinho da navalha no bandulho da cobra! – Disse o cuco!

Veio de lá o latibó e disse:

– Olha que eu sou o latibó! Se o barulho n'a acaba, eu faço-te os ossos em pó!

Cuco – Ai, ai! Lá vai o cuco deserdado pò campo da manorra por ter espetado só o biquinho no bandulho da cobra!

E o latibó disse:

– Cá vai! Cá vai! Cá vai! Eu tenho de ir provar o bom vinho, que é dia de São Martinho! Se o barulho n'acaba, eu faço aqui um grande barulhinho! E faço os ossos em pó: sou o latibó!

Bom e vinha um rapazinho, de sobreira em sobreira, a ouvir aquela coisa – e com medo! – que era a bicharada toda! A'pois o rapazinho espreitava assim, atrás dos sobreiros... O que é que acontece? Viu um passarinho a entrar pra dentro do talouco(9), assim dum buraco no sobreiro... E foi e disse assim:

– Olha, entrou pr'aqui um passarinho...

E atão o rapazinho meteu a mão no talouco... 'Tava lá um ninho. Ele contente, andava louco! Mexia-lhe: ele não mordia! E ia dizendo:

– O passarinho é meu! Mexi-lhe, ele não me mordeu! E o passarinho é meu! E o passarinho é meu...

E vai o passarinho zangou-se, deu um avão e desapareceu!

Bendito louvado, parece que o continho está acabado!

 

Luísa de Jesus, 76 anos, Amieiras (conc. Mora), Junho 2007.

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
A bicharada
1931
Luísa de Jesus

Contexto de produção

Contexto territorial

Mora, Casa da Cultura de Mora
Mora
Mora
Évora
Portugal

Contexto temporal

2007
Hoje sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Mora e escolas

Património associado

Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Mora. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas. Participam em iniciativas do Fluviário de Mora e da Casa da Cultura. Destacam-se as seguintes actividades desenvolvidas desde 1999:

- Encontro de Contadores e Histórias - 1999 a 2005

- Ti Tóda - Conta-me eum conto, estafeta de contos - 2001 a 2004

- As lendas vão à escola - 2005

- O Talego Culto - 2007

- O Talego ambiental - 2007 a 2008

- Comunidade do Canto do Lume

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL