Inventário PCI

Dois surdos

Vimioso

"Dois surdos" - Uma conversa entre dois surdos resulta num caso cómico.

José António, 1947. Vimioso

Registo 2010.

ATU1698 Os Surdos e suas Respostas Tontas.

 

Classificação por Paulo Correia, CEAO, 1 de Março de 2011.

 

Transcrição

Os dois surdos

 

(…) Um António aqui (…) que era surdo. E o outro também era surdo.

Iam a passar (…) encontrou-o:

 

- Ói! – Assim…- ‘Tás(1) bom?

 

Diz-le(2) ele, andava então numa curtinha(3), tinha nogueiras, andava atão(4) a apanhar as nozes e lá:

 

- Ói! – disse ele - ‘tás bom?!

 

Diz: - Não! Não teno(5) nada! ‘Tão todas furadas. Umas poucas (…). - Pois, ele entendeu assim.

 

Mas o outro, como não entendeu também a conversa, que também era surdo, continuou:

 

- Então e as vossas filhas são muito (…).

 

- Não, senhor! ‘Tão todas furadas! Não…

 

Pronto, aquilo passou. O outro (…) pa’(6) São Pedro. E ele ficou-se ali pensando que (…) que tinha falado bem um e outro.

 

Passando um outro que andava ali perto, oubiu(7) a conbersa e levou-a pa’ taberna(8). Levou a conbersa pa’ taberna e depois é que soube que a conbersa deles, coitados, né(9)? O homem num(10) sabia nada, mas (…).

José António Esteves, Vimioso, Outubro de 2010

 

Glossário:

(1) ‘Tás – ‘estás’ ( pronúncia popular do verbo “estar” conjugado).

(2) -Le – ‘lhe’ (pronome, registo popular e modo informal).

(3) Curtinha – cortinha, por hipótese, « s.f Terreno agrícola, maior do que quintal, murado, situado junto da habitação ou perto dela (Fornos-FEC).» Barros, Vítor Fernandes, (2006). Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro. Lisboa: Edição Âncora Editora e Edições Colibri, p.125

(4) Atão“então”, regionalismo de Portugal, de uso informal e coloquial que, no caso, denota espanto.

(5) Teno – ‘tenho’ (em mirandês).

(6) Pa’ – ‘para’ (usadode modo informal e coloquial).

(7) Oubiu – ‘ouviu’ (trocar o “b” pelo “v” é um traço fonético comum nos dialectos do Norte do Portugal).

(8) Tabernatasca, loja de comes e bebes e onde se vendia vinho a retalho.

(9) Né? – não é? Contracção do advérbio ‘não’ e da forma verbal ‘é’ – “não é”?

(10) Num - não (linguagem, uso coloquial).

 

Referências bibliográficas e recursos online utilizados no glossário:

Barreiros, Fernando Braga. (1916). Tradições populares de Barroso. Revista Lusitana, Volume XIX. Lisboa: Livraria Clássica Editora, p. 76

Barreiros, Fernando Braga. (1937). Vocabulário Barrosão. Revista Lusitana Volume XXXV, Lisboa: Livraria Clássica Editora. P. 290

Barros, Vítor Fernandes, (2006). Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro. Lisboa: Edição Âncora Editora e Edições Colibri, p.254

Barros, Vítor Fernandes, (2010). Dicionário de Falares das Beiras. 1ª. Edição. Lisboa: Âncora Editora e Edições Colibri, p.243

Vasconcellos, José Leite de (1883-1895 ) «Dialecto transmontano», Opúsculos, vol. VI Dialectologia (Parte II), organizado por CINTRA, Maria Adelaide Valle, Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1985, pp. 139

VIANA, Aniceto dos Reis Gonçalves (1887-1889). Materiais para o estudo dos dialectos portugueses - Fallar de Rio Frio, typo bragançano dos dialectos transmontanos), Revista Lusitana, Volume I.

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
Dois surdos
1947
José António

Contexto de produção

Contexto territorial

Vimioso, Lar de Santa Casa da Misericórdia de Vimioso.
Vimioso
Vimioso
Bragança
Portugal

Contexto temporal

2010
Hoje sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Vimioso

Património associado

Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Residentes do concelho de Vimioso que são convidados para iniciativas do Município e Biblioteca de Vimioso. Principais actividades desenvolvidas que estas manifestações culturais:

Sons e Ruralidades em Vimioso

ANAMNESIS - Encontro de Cinema, som e tradição oral.

Feira de artes, ofício e sabores

(ver links em documentação)

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
José Barbieri e Filomena Sousa
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL