Inventário PCI

O burro despertador

Mora

"O burro despertador" - Um burro bem mandado determina o horário do dia de trabalho. Um homem vai tratar de acertar o “despertador” para um horário mais justo para os trabalhadores.

José Manuel ; Brotas; Concelho de Mora, Évora

Registo 2007.

Classificado segundo o sistema internacional de Aarne-Thompson:Cf. ATU 1003 (var.) Lavrando a Terra.

 

Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Julho de 2007.

Transcrição

O burro despertador

 

«Um homenzito andava de monte em monte a pedir trabalho. Num monte, aqui ao lado, disseram-lhe:

– Eh! Não tenho trabalho!

Até que chegou lá a um monte e disse:

– Ó senhor, atão não tem p'aí trabalho pa' me dar?

Patrão – Olhe, até, por acaso, tenho! Vamos lá a combinar. Olhe, dou de comer e dorme aqui na cocheira aonde tenho o burro. Mas olhe que aí há uma coisa... É que eu cá na' tenho relógio: o relógio é o me' burro. Quando ele zurra é para ir pegar ao trabalho, ó'póis ele, quando for à hora do comer, zurra e vem comer. O relógio é o burro.

Trabalhador – Bom, 'tá bem.

O gajo ficou... E disse ele:

– Ora esta! O relógio?! O burro é que é o relógio?! Há-de ser boa!

Bom, no outro dia, quando foi às oito horas (para irem pegar a trabalhar) o burro zurrou: ham! ham! ham!

Trabalhador – É pá! 'Tá me'mo certo! Ah, burro d'um filha da puta! Atão o burro 'tá me'mo certo!

Bom, lá andou trabalhando. Quando eram horas de comer o burro zurrava. Vinham comer e tal.

No outro dia de manhã, quando foi às sete horas o burro: ham! Ham! Ham!

Trabalhador – É pá! Burro d'um filha da puta, já adiantou uma hora hoje! Bom, atão, mas vou começar a trabalhar. O burro já zurrou...Oh!

Lá andaram trabalhando. Quando eram horas de comer o burro zurrava – vinham. Tudo muito bem.

No outro dia, quando foi às seis horas, o burro: ham! Ham! Ham!

Trabalhador – É burro daquele cabrão! Atão o burro já adiantou duas horas! 'Tamos marimbados co burro!

Bom, no outro dia, disse:

Trabalhador – Bom, hoje vou trabalhar. Arranjo lá um xipó, um cacete, trago-o aqui para o pé da cama. Quando ele zurrar, caio-me com ele. Deixei cá de ser o bonito.

Bom, no outro dia, quando foi às cinco horas o burro: ham! Ham!

Trabalhador – Ai é?! Já adiantaste três horas! Atão, espera lá!

Puxa do cacete, começa a medir no burro... P'as orelhas, era pra cabeça, era por onde quer que o apanhava! E taruz! O burro era já coice, peido que até dava, já todo maluco ali dentro!

O patrão 'tava lá deitado – os patrões nesse tempo dormiam todos nos montes – ouve aquele banzé lá pò coiso e chega à porta. Abriu a porta, andava o gajo: taruz! Taruz!

Patrão – É pá! O que é que você anda a fazer?!

Trabalhador – Ó patrão! Ando a acertar o relógio que isto 'tá tudo descontrolado!

 

José Manuel, 87 anos, Brotas, (conc. Mora), Junho 2007.

 

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
O burro despertador
1920
José Manuel

Contexto de produção

Contexto territorial

Mora, Casa da Cultura de Mora
Brotas
Mora
Évora
Portugal

Contexto temporal

2007
Hoje sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Mora e escolas

Património associado

Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Mora. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas. Participam em iniciativas do Fluviário de Mora e da Casa da Cultura. Destacam-se as seguintes actividades desenvolvidas desde 1999:

- Encontro de Contadores e Histórias - 1999 a 2005

- Ti Tóda - Conta-me eum conto, estafeta de contos - 2001 a 2004

- As lendas vão à escola - 2005

- O Talego Culto - 2007

- O Talego ambiental - 2007 a 2008

- Comunidade do Canto do Lume

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL