Inventário PCI

Correr as 7 fontes

Idanha-a-Nova

"Correr as 7 fontes" - Descrição de tradições associadas ao dia de São João: a) ir à meia-noite beber em sete fontes diferentes; b) ritual de cura de crianças quebradas.

Maria Luísa, Ano de nascimento 1945.

Idanha-a-Nova

Registo 2010.

Tradições associadas ao dia de São João.

Transcrição

Correr sete fontes/ Curar quebradura

 

«Depois, à meia-noite, esperava-se pela meia-noite, iam-se correr as sete fontes. Tinham que ser sete fontes, donde não se vissem umas das outras! Levava-se um caldeirinho(1), pa’(2) se tirar a água de cada fonte. E umas lavavam a cara e outras bebiam. Era a tradição. Beber água.

 

Era o milagre que São João fazia: havia meninos (meninos ou meninas, crianças, não é?) quebradas(3) e que, nessa noite, eram passadas no meio de duas vergontas(4) de marmeleiro. Tinha que ir uma Maria e um João e ia a criança que era quebrada.

 

Quando se chegava a esse dito marmeleiro – portanto tinha que ser distanciado e durante um ano a criança não podia passar por além, por aqueles lados -, levava-se a criança, abria-se a vergonta ao meio, levava-se umas tiras de  um cueiro(5) (agora dizem fraldas, mas dantes era cueiros), rasgava-se uma tira, passava-se a criança. O João passava pà(6) Maria, primeiro. O João dizia: - Toma lá, Maria. – Passava a criança pelo meio das vergontas. A Maria apanhava e depois a Maria dizia: - Deita cá, João – depois tornava a passá-la: - Toma lá um  menino podre e dá-me cá um são.

 

Depois da criança ser passada  assim, as três vezes, as vergontas uniam-se muito bem unidas: eram enroladas com aquela tira do cueiro e bem atada. E ficava assim. Durante um ano, se as vergontas do marmeleiro colassem o menino ficava curado. Se o menino não se curasse, as vergontas não colavam. Mas a principio… Nós lá tínhamos, essa fé e que acontecia isso. Viu-se esses exemplos muitas vezes. Eu  já não sou nova, mas também não sou assim muito velha, mas sempre ouvi contar isto à minha mãe, à minha avó. E que dava certo.»

 

Maria Luísa, Zebreira (Idanha-a-Nova), Setembro de 2010

Glossário:

(1) Caldeirinho – vaso, no caso pequeno, para tirar água dos poços.

(2) Pa’ – abreviatura de “para” (usadade modo informal e coloquial).

(3) Quebradas – com uma hérnia.

(4) Vergontas – o mesmo que vergônteas: varas tenras, ramos.

(5) Cueiro – pano com que envolvem as crianças de colo, principalmente as pernas e as nádegas.

(6) - abreviatura oral, de uso informal e coloquial, de “para o”.

Na construção deste glossário consultaram-se: http://aulete.uol.com.br;http://www.priberam.pt

 

 

 

Caraterização

Identificação

Práticas sociais, rituais e eventos festivos
Festividades cíclicas
Correr as 7 fontes
1945
Maria Luísa

Contexto de produção

Contexto territorial

Biblioteca Municipal de Idanha-a-Nova
Zebreira
Idanha-a-Nova
Castelo Branco
Portugal

Contexto temporal

2010
Hoje sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Idanha-a-Nova

Património associado

Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Residentes do concelho de Idanha-a-Nova em festas e romarias locais e em iniciativas do Município, Centro Cultural e Biblioteca de Idanha-a-Nova. Principais actividades desenvolvidas e que promovem estas manifestações culturais:

Festas e Romarias

São João

Projectos

Projecto Oralidades

 

 

(Ver links em documentação)

(Ver links em documentação)

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
José Barbieri e Filomena Sousa
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL