Inventário PCI
Torres Vedras
"O Naifo"- Relato espirituoso de um velhote pedinte que rezava, no tempo da fome em Portugal.
Júlia Luís, Ano de nascimento 1942, Maceira, Torres Vedras, Registo 2010.
Transcrição
O Naifo
O tempo da fome foi quando eu era pequenina. Os velhos não tinham reforma, não é? Agora os velhotes ainda se queixam, mas não tinham reforma e andavam todos a pedir. Andavam todos a pedir e…
Olha, havia uma frase muito engraçada por causa de um velhote. Porque o velhote… Andavam todos a pedir, não tinham comida, não é? E a gente também não tinha muita, mas sempre lá lhe dava uma batatinha ou uma cebolinha, e eles coitados lá arranjavam…
O chamado Naifo – que ele rezava sempre; punha o barrete atravessado na cabeça e rezava:
- Ó minha senhora, dê-me alguma coisinha, pela alma de quem lá tem… Dê-me alguma… -e começava a rezar, a rezar, a rezar…
E então… Toda a gente dava. Esse homenzinho rezava, rezava, rezava por alma dos que lá tinham. E então um dia, uma mulherzinha estava a cozer pão. E foi, deu-lhe uma merendeirinha. Deu-lhe uma merendeirinha e ele pôs dentro da camisa. E depois começou a rezar. Chegou:
- Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres… Ai, tão quentinho!!! Ai, tão quentinho!
Mas era o pão, não é? Olha, aquilo ficou de uma maneira que ainda hoje se diz: “entre as mulheres, ai tão quentinho”! Foi o Naifo.
E depois dizia assim:
- ´tóbrigadinha[1], minha senhora. ´tóbrigadinha! ‘tóbrigadinha! Seja pela alma de quem lá tem! ‘tóbrigadinha, ‘tóbrigadinha!
[1] Muito obrigadinha.
Júlia Luís , Torres Vedras, Registo 2010.
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Encontros em festas e actividades promovidas pelo Município e Junta de Freguesia