Inventário PCI

O Pintar e Cantar dos Reis em Mata

O Pintar e Cantar dos Reis -  Na noite de 5 para 6 de janeiro, sem ensaios ou combinações elaboradas, o grupo junta-se espontaneamente e parte pelas ruas da povoação. Os membros que vão pintar seguem à frente e, em silêncio, munidos das tintas, pincéis e lanternas pintam as fachadas das casas com os tradicionais desenhos dos Reis. Mais atrás seguem, em maior número, os cantores o coro liderado pelo "apontador" (em Mata cantam em todas as casa em voz alta). 

O Pintar e Cantar dos Reis tem em Portugal a sua maior expressão no concelho de Alenquer e em 2016 a celebração realizou-se em 9 povoações deste município, entre elas a Mata.

Transcrição

Caraterização

O PINTAR E CANTAR DOS REIS EM MATA*

 

*Resumo - ver versão completa, anotada e com fotografias no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 46-55).

 

O grupo começa a juntar-se pelas 22h no alto da Mata na adega do Francisco Franco onde bebem um copo e partem até à Remolha, o cotovelo , um sítio abaixo da Mata, onde iniciam o Pintar e Cantar dos Reis. Percorrem a aldeia e acabam pelas 3 horas da madrugada.

O grupo costuma ter perto de 20 elementos (homens e mulheres), número que se mantêm até ao fim da noite. Em 2016 participaram 22 reiseiros. Os pintores seguem à frente, usualmente dois grupos de 3 - cada com 2 pintores e uma pessoa com a lanterna. Desenham diferentes símbolos nas fachadas das casas  - o desenho de vasos e corações com flores alusivos à composição do agregado familiar; os desenhos representativos das profissões e doutras atividades dos habitantes; o Vaso ou o Coração do Grupo dos Reis; as inscrições alusivas aos Reis - B.F. e B.R. (Boas Festas e Bons Reis) e a "Era" (o ano da celebração). As cores tradicionalmente utilizadas no ritual são o vermelho almagre e o azul de anilina. 

O apontador canta perto da entrada da casa, em voz alta e o coro responde com diferentes versos, um pouco mais afastado. Executam sempre a cantiga completa - versos sobre a viagem dos Reis e sobre o nascimento de Jesus na manjedoura com o boi a bafejar e a mula a resmungar , amaldiçoando a mula.

Fazem o peditório cuja receita serve para mandar dizer uma missa pelas Almas e organizar um almoço convívio.

A ORIGEM E HISTÓRIA DO PINTAR E CANTAR DOS REIS*

 

*Resumo - ver versão completa e anotada no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 17-24).

 

No século IV as celebrações da Epifania do Oriente chegam à Europa. Na Igreja do Ocidente o auto dos Magos difunde-se massivamente, auto esse que ao longo dos tempos sofre várias modificações dando origem a outro tipo de manifestações: práticas realizadas usualmente no espaço público, dirigidas por populares e que incluíam desfiles pelas ruas, peditórios acompanhados por bênçãos e versões resumidas e musicadas do auto por exemplo o Cantar dos Reis em Portugal, os Vilhancicos em Espanha e o Cantar da Estrela na Alemanha (Coelho, org. Leal, 1993; Peixoto, 1995; Weiser, 1952).

Associada à cerebração da Epifania está a tradicional Bênção do Giz (descrita no antigo Ritual Romano) - uma cerimónia que utiliza um giz abençoado para, no dia 6 de janeiro, se inscreverem as iniciais CMB ( Christus Mansionem Benedicat ) e o ano nas portas. Ritual de onde pode provir o costume de, na Noite dos Reis, se pintarem votos de felicidades à entrada das casas.

Na Península Ibérica o Dia de Reis começa a ser celebrado devido à chegada dos Frades Franciscanos e Dominicanos a este território. Este facto permite sublinhar a importância de Alenquer no processo de difusão desta celebração. Em Portugal, foi na região do concelho de Alenquer que estas Ordens foram primeiramente acolhidas entre 1212 e 1218 Frei Zacarias chega a Alenquer para fundar um convento Franciscano e Frei Soeiro Gomes, primeiro provincial dominicano da Península Ibérica (1221-1223) funda, no termo do concelho de Alenquer, no alto da Serra de Montejunto, o primeiro convento Dominicano português.

Identificação

Práticas sociais, rituais e eventos festivos
Festividades cíclicas Rituais colectivos
O Pintar e Cantar dos Reis (Cantar dos Reses ou Cantar dos Reis)
Grupo dos Reis da Mata
não se aplica

Contexto de produção

Mata
não se aplica

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.

Ações promovidas pelo Grupo dos Reis da Mata:

Garantir a execução do Pintar e do Cantar dos Reis na sua povoação;  Garantir a transmissão da prática, motivando e ensinando as gerações mais novas; Reunir os recursos necessários para a execução da expressão cultural (materiais e humanos); Associar-se como parceiros às ações de salvaguarda promovidas pela Câmara Municipal.

Ações promovidas pela Câmara Municipal de Alenquer:

Apoio logístico aos Grupos dos Reis do concelho de Alenquer; Estudo e Inventariação do Pintar e Cantar dos Reis no concelho de Alenquer (2016); Realização de um documentário sobre a expressão cultural (2016); Publicação de um livro sobre a expressão cultural; Continuação da organização dos Encontros sobre o Pintar e Cantar dos Reis entre os membros de todos os grupos (já promovidos em 2013, 2014, 2015 e 2016)  Continuação da organização do "Roteiro Turístico Noturno" - que permite assistir ao Pintar e Cantar dos Reis em várias povoações, na noite de 5 para 6 de janeiro. Atividade promovida com o consentimento dos Grupos e respeitando o recato da manifestação (já promovido nos anos de 2015 e 2016).

Em Mata várias gerações estão envolvidas na organização da tradição. A comunidade não considera a celebração em risco ou ameaçada e a transmissão geracional dos conhecimentos e práticas encontra-se atualmente assegurada pelo Grupo dos Reis.

Contexto territorial

Mata
Aldeia Gavinha
Alenquer
Lisboa
Portugal

Contexto temporal

2015
Realiza-se anualmente na Noite de Reis - de 5 para 6 de janeiro

Património associado

>Em Mata realiza-se no fim-de-semana seguinte ou no segundo fim-de-semana depois da celebração o Peditório dos Reis pelas casas das povoações. O resultado desse peditório serviu para mandar rezar uma Missa pelas Almas do Purgatório e para organizar um almoço para todos os elementos do grupo. 

Não se aplica.

Não se aplica.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
activa
Descrição da transmissão
Aprendizagem informal Aprendizagem combinada oralidade/escrit Acesso livre Periódico Com recurso a lugar
Agentes de tramissão

Conhecedor do ritual, o apontador é usualmente o elemento que assume o papel de porta-voz do grupo e partilha com o pintor mais velho e com os elementos mais dedicados ao grupo a responsabilidade de manter a prática transmitindo-a às novas gerações.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Registo vídeo / audio
José Barbieri, Carolina Carvalho, Eva Ângelo, Filomena Sousa, Maria Ana Krupenski e Miguel Martinho
Entrevista
Filomena Sousa e José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL