Inventário PCI
Relato sobre tradição para quando as crianças demoravam a falar.
Rituais tradicionais de cura de doenças.
Transcrição
- "Havia uma mulher que curava o ganido. E antigamente os enganidos até iam às madrinhas - três, entre as pessoas. Ia madrinha e a criança. Depois tinham que entrar numa casa que tivesse duas portas. Entrar por uma e sair por outra. E tinham que lhe meter um bocadinho de pão na mão, à criança. Porque a criança se calhar não falava, já era grandinha e não falava. Depois a gente fazia aquilo. (...) Ia a três casas. Entrava por uma porta - mas tinha que ter duas portas! Entrava por uma e saía por outra. Tinham que lhe meter um bocadinho de pão na mão e saía."
- "E diziam alguma coisa?"
- "Não. Não me lembro de dizer nada. Só faziam assim. Só iam com a criança. Três pessoas iam com a criança. Entravam por uma porta. Iam a casa das pessoas. Entravam se tinha duas portas, se não tinha duas portas não entravam. Mas tinha que ter duas portas, entrar por uma porta e sair por outra. E tinham que ir a três casas. Faziam aquilo e depois a criança desenvolvia!
Casas de fora. Não eram da criança, eram de fora. Também havia pessoinhas que... havia uma mulher, conhecia uma mulher que curava os enganidos.
As crianças, se calhar, agarravam os ganidos, não falavam, punham-se doentes. E depois diziam-lhe assim: «Ela tem feitiço, a criança tem feitiço.». Iam aquela mulher. Aquela mulher era uma sortuda. Então ela curava isso. Ia lá um par de vezes, há dela. Ela sabia lá umas orações, fazia-lhe umas cruzes. Eu nunca vi isso, mas ouvi falar nisso.
E era assim, não iam ao doutor. O doutor era assim. Iam curá-los assim a essas pessoas. Agora não há nada disso, isso acabou."