Inventário PCI
Relato sobre saquinhos com ervas benzidas que se colocavam nos animais prestes a parir, para os proteger das bruxas.
Medicina popular (proteção dos animais contra as bruxas; ervas benzidas)
Transcrição
- "Antigamente tínhamos as vacas e, antes de parir, uns dias fazíamos assim umas saquinhas, assim pequeninas, quadradinhas. E metíamos-lhe ali: arruda, um carvão do lume, sal, sarja. (...) Não sei o que era mais, mas penso que não era mais nada. Prendíamo-la numa baracinha, púnhamos-lha assim à cabeça, à roda dos cornos. Aquela [chamava-se] a dómina.
E depois diziam assim as bruxas, quando viam a dómina diziam assim:
«Ou tu és sarja ou tu és arruda
ou a tua dómina é mui sabichuda.»
Diziam elas, porque viam a dómina, então diziam assim:
«Ou tu és sarja ou tu és arruda
ou a tua dómina é mui sabichuda.»
Então a gente, como sabia que elas se metiam com os animais, metiam-se com a gente, então trazia aquelas ervinhas benzidas. Vínhamos benzer o ramo, quando era no tempo de benzer o ramo, porque só há aquela altura, só há aquele dia, não há mais nada. Então a gente vinha e depois com aquelas ervinhas fazia aquelas dóminas aos animais, por causa de que as bruxas não se metessem com os animais. Antigamente era assim."
- "Se elas se metessem com os animais o que é que acontecia? Eles ficavam doentes?"
- "Podiam-se malparir, podiam-se não livrar. Podiam-lhe morrer a cria dentro da barriga e não se livrar, ter que chamar o veterinário, que naquela altura não havia veterinários. Havia pelos idosos pessoas que sabiam. Os idosos que sabiam livrá-las. E livravam-nas. E mais, não havia mais nada. E era assim, era por isso que a gente então, por causa de coisas que faziam isso. Por causa de não lhe acontecer nada."