Inventário PCI
Alenquer
"A apanha da cereja" - Explicação de como antigamente se apanhava muita cereja e as árvores dos pomares eram robustas e fartas, por oposição ao que se vê acontecer actualmente.
António Melão, Ano de Nascimento 1932. Soeiro Cunhado. Pereiro de Palhacana.
Relato sobre práticas culturais
Transcrição
A apanha da cereja
"As cerejeiras cá, isso era no mês de Março, não é? Agora é que elas começam todas a arrebitar. Aquilo era… faz-de-conta que era um lençol. Aquilo era um lençol, tudo branco! Aquilo era ali… Isto era uma área de muita cereja.
Eu cheguei a andar aí um mês e tal com quatro mulheres a apanhar cereja, fora a minha mulher! Sempre todos os dias, todos os dias. Todos os dias a acartar cereja para todos. Comprava os cerejais, eu. Começou assim, depois foi aumentando. E era sempre com carroça, não era lá a brincar! Vinha de lá, tinha que ir para lá outra vez! Vinha de lá, tinha de ir para lá outra vez.
As mulheres subiam acima das árvores para apanhar. E outras era por baixo, aonde chegavam, não é? Então elas subiam pela árvore acima e umas puxavam – tinham umas canas para puxar assim as trancas…
Não, não cantavam! Cantavam agora! Pareciam aquase os melros! Depois andava aqui uma mão cheia delas, depois andavam outras logo lá mais à frente. Depois aquelas começavam a cantar para as outras, as outras para estas… Ó! Aquilo era uma […]!
As químicas deram cabo das árvores todas. Devia ser uma coisa qualquer que veio nos desastres, percebe? Agora… Depois lá o terreno era todo franjado, tudo arranjado; não levava químicos nenhuns no terreno. Aquilo foi uma coisa qualquer que veio. Então, tinha lá um pomar, uma coisa fora de série! Mas olha, está lá uma, por acaso: uma árvore, só. O resto que tem lá é ameixeiras.
Não sei o que é que foi isto, que agora pode-se pôr mas não desenvolve… A gente tinha árvores que era preciso dois homens assim para abrangê-las! Agora é pouco mais que a coxinha de uma perna das minhas – e eu sou delgado! Então, não se fazem árvores como deve ser, como era dantes! É o clima, pronto. Não desenvolve. A árvore nunca mais medrou como era dantes, pronto. O que é, não sei. É quem domina isto. É para haver dos outros lados, para haver dinheiro? Os outros também precisam, não é? Aqui é umas áreas valentes de vinhos e coisas. É uma área boa…"
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Histórias partilhadas nos tempos de lazer e em festas e romarias. Actividades promovidas pelo Município.