Inventário PCI

Produzir aguardente

Alenquer

"Produzir aguardente" - Explicação de como antigamente se fazia aguardente a partir da massa de vinho.

João Grácio, Ano de Nascimento 1937. Pereiro de Palhacana. Alenquer. 

Relato sobre práticas

Transcrição

Produzir aguardente

"[Manuel Alves]

Aqui onde está agora este prédio, havia uma caldeira. Grelhámos aqui numa caldeira o que é a bagaceira, que é a expiração da massa de vinho. Depois era com aquela massa para fazer aguardente. Chamava-se expiração da aguardente, da massa de vinho.

Isto vinha daqui, era tudo ali que se conservava. Trabalhávamos aqui nesta caldeira. Trabalhava-se às seis da manhã, às onze ou à meia-noite também. Ganhávamos nesse tempo, o quê? Trabalhava-se esses três dias, dois dias e meio… Eram trinta e cinco escudos, salvo erro…

[João Grácio]

Primeiro as massas eram catadas aqui e dos outros lados – o patrão comprava aí massa de outros lados. Depois aqui tinha a caldeira e tinha aqui poços debaixo do chão. Depois aquela massa era posta dentro dos poços. Era calcada, calcada; nós andávamos até às tantas da noite a calcar aquela massa. Depois, no fim dela estar calcada, os poços cheios e ela calcada, era tapado por cima com um barro para aquilo não ganhar ar. No fim da vindima acabar, aí um mês ou dois, ou nem tanto… Quando o patrão depois entendia, quando o patrão entendia, é que se começava a caldeira. Começava-se com a caldeira a queimar aquela massa. Porque se fosse tirar logo, a queimar logo, não dava aguardente nenhuma. Aquilo tem que cozer, tem que cozer primeiro a fermentação, tem que fazer a fermentação primeiro para depois ela dar a aguardente, porque se não for fervida, não dá aguardente.

[Manuel Alves]

A tinta dá, a branca é que não. A tinta dá para ser seguida, a branca é que tem que ter a fermentação. É diferente. A massa branca é diferente da tinta. Sabe porquê? Porque aquilo é bica aberta, não foi curtida nos tonéis. E então essa massa tinha que ser fermentada dentro dos depósitos para depois de estar pronta ser queimada. Enquanto a tinta fazia um vinho directo e queimava logo de seguida. Estava fermentada porque tinha sido curtida. Porque a uva tinta é curtida nos depósitos. Dantes era tonéis, nem era depósitos, não é? E a branca não: é bica aberta, espremida e então não era curtida, tinha de ser a fermentação para poder ser destilada.

[Celeste Alexandre]

E o Zé Laranjo! O Zé Laranjo! Por um copo de vinho e quinze tostões para um maço de tabaco, pisava aí massa que se fartava! Ia à noite para ali depois. E ele, davam-lhe qualquer coisita para o tabaco, que ele… E ele andava ali um serão inteiro a pisar massa com eles! Também ainda andou com vocês."

Caraterização

Identificação

Práticas sociais, rituais e eventos festivos
Agricultura e silvicultura
Produzir aguardente
1937
João Grácio
Trabalhador agrícola e comerciante

Contexto de produção

Contexto territorial

Pereiro de Palhacana, junto à Adega de João Grácio
Pereiro de Palhacana
Alenquer
Lisboa
Portugal

Contexto temporal

2013

Património associado

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
inativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Histórias partilhadas nos tempos de lazer e em festas e romarias. Actividades promovidas pelo Município.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Ana Sofia Paiva
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
Filomena Sousa
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL