Inventário PCI
Eram as papas de milho que davam a energia necessária para passar o dia de enxada na mão, retirando de um terreno pobre o sustento familiar. O acompanhamento das papas era conseguido ao sabor dos recursos do momento: um pouco de banha, um pouco de entremeada, um fio de azeite, mel ou água-mel.
Hoje o uso das papas de milho conhece uma reapropriação pelas novas gerações que as usam como acompanhamento de refeições.
Transcrição
Caraterização
Ingredientes:
àgua, Farinha ou Carolo de Milho.
Preparação:
Num tacho baixo coloca-se água fria e mistura-se a farinha ou carolo de milho. Leva-se ao lume. Quando começa a ferver baixa-se o lume e mexe-se um pouco para não queimar no fundo. Deixa-se ao lume brando até que a superfície comece a fazer uma crosta com bolhas grandes (a barriguinha de velha). É altura de apagar o lume, tapar o tacho com um pano e deixar repousar um pouco. Está pronto a servir, acompanhado por papada frita, figo seco, água de mel e outros alimentos. Nesta receita, a informante incorporou gordura de porco derretida. Também se usa azeite para acrescentar algum sabor nas papas. Na costa do Algarve a preparação das papas é mais rala, com mais água, chamando-se xarém.
O cultivo do milho chegou à península Ibérica com Cristóvão Colombo. Com uma alta produtividade e como não se pagavam impostos sobre o seu cultivo - ao contrário do trigo, centeio e cevada o milho implementou-se em todo o território nacional com grande rapidez durante o seculo XVI. Esta adoção do milho pelos agricultores portugueses enriqueceu o regime alimentar das populações pobres. Foram os portugueses que difundiram o milho pelo mundo. As aplicações culinárias do milho desenvolveram-se com igual rapidez. No Algarve e no resto do país encontramos hoje memórias da produção doméstica de farinha e carolo de milho com uma mó manual a molineta já usada pelos romanos. Nos relatos que recolhemos no Cachopo, Tavira, afirma-se que o seu uso era quotidiano: pela noite a família revessava-se a trabalhar na mó para produzir a farinha que seria usada no dia seguinte para fazer as papas de milho. As memórias relacionadas com as papas de milho são ambivalentes: por um lado os informantes reconhecem o valor alimentar desta comida mas também lhes lembra um tempo muito difícil e de grande pobreza em que eram obrigados a comer as papas todos os dias por não haver mais nada. Eram as papas que davam a energia necessária para passar o dia de enxada na mão, retirando de um terreno pobre o sustento familiar. O acompanhamento das papas era conseguido ao sabor dos recursos do momento: um pouco de banha, um pouco de entremeada, um fio de azeite, mel ou água-mel. Hoje o uso das papas de milho conhece uma reapropriação pelas novas gerações que as usam como acompanhamento de refeições.
Identificação
Contexto de produção
Colectivo/Comunidades
Os direitos colectivos são de tipo consuetudinário.
Esta receita continua ser confeccionada em diversas localidades da Serra Algarv
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Dieta Mediterrânica.
A Dieta Mediterrânica envolve um conjunto de saberes baseados na proximidade e na sazonalidade. Estes saberes aplicam-se à agricultura, à alimentação e à organização social. A sua zona natural de ocorrência é a bacia mediterrânica. Os produtos da época, o azeite, o pão e os vegetais são predominantes nesta dieta.
Utensílios de cozinha. Tacho de cobre.
Serra Algarvia
Contexto de transmissão
Círculos Familiares