Inventário PCI

O Pintar e Cantar dos Reis em Ota

O Pintar e Cantar dos Reis - o ritual começa pela constituição do grupo que anualmente, na noite de 5 para 6 de janeiro, se reúne sem ensaios ou combinações elaboradas. O grupo junta-se espontaneamente e parte pelas ruas da povoação e casai vizinhos. Os membros que vão pintar seguem à frente e, em silêncio, munidos das tintas, pincéis e lanternas pintam as fachadas das casas com os tradicionais desenhos dos Reis. Mais atrás seguem, em maior número, os cantores o coro e o apontador que, em Ota, cantam a alta voz em locais estratégicos, para várias casas. 

O Pintar e Cantar dos Reis tem em Portugal a sua maior expressão no concelho de Alenquer e em 2016 a celebração realizou-se em 9 povoações deste município, entre elas está Ota.

Transcrição

Caraterização

O PINTAR E CANTAR DOS REIS EM OTA*

 

*Resumo - ver versão completa, anotada e com fotografias no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 73-81).

 

Na Ota pelas 21 horas, preparam o petromax, pegam nas tintas e nos pincéis e encontram-se no Largo da Ota. Depois vão numa carrinha até à povoação vizinha que se chama Aldeia, é lá que começam a Pintar e Cantar. A partir daí iniciam o percurso a pé, seguem em direção à Ota e fazem cerca de 20 paragens em locais estratégicos. Terminam, nunca antes das 5, 6 horas da madrugada, com os tradicionais ovos mexidos. Vinte ou trinta ovos mexidos prò pessoal comer (Lúcio Carvalho, 2015).

Nos locais estratégicos cantam partes da cantiga para várias casas e pintam a sigla BF (Boas Festas) e o ano em algumas fachadas. Por vezes também pintam a estrela que guiou os Reis Magos desenhada a compasso com seis pontas - um hexagrama inscrito num círculo e com o rasto da cauda representado por pontos.

Usualmente o grupo só tem um apontador que em roda ou de frente para o coro lança a cantiga em dísticos que os outros elementos repetem - ao todo são 34 versos sobre a viagem dos Três Reis, 2 versos desejando as Boas Novas e no fim 2 versos petitórios, estes últimos cantados só pelo coro.

Em Ota a celebração dos Reis restringe-se à noite de 5 para 6 de janeiro. Não fazem peditório nem missa ou qualquer outro encontro do grupo durante o ano.

A ORIGEM E HISTÓRIA DO PINTAR E CANTAR DOS REIS*

 

*Resumo - ver versão completa e anotada no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 17-24).

 

No século IV as celebrações da Epifania do Oriente chegam à Europa. Na Igreja do Ocidente o auto dos Magos difunde-se massivamente, auto esse que ao longo dos tempos sofre várias modificações dando origem a outro tipo de manifestações: práticas realizadas usualmente no espaço público, dirigidas por populares e que incluíam desfiles pelas ruas, peditórios acompanhados por bênçãos e versões resumidas e musicadas do auto por exemplo o Cantar dos Reis em Portugal, os Vilhancicos em Espanha e o Cantar da Estrela na Alemanha (Coelho, org. Leal, 1993; Peixoto, 1995; Weiser, 1952).

Associada à cerebração da Epifania está a tradicional Bênção do Giz (descrita no antigo Ritual Romano) - uma cerimónia que utiliza um giz abençoado para, no dia 6 de janeiro, se inscreverem as iniciais CMB ( Christus Mansionem Benedicat ) e o ano nas portas. Ritual de onde pode provir o costume de, na Noite dos Reis, se pintarem votos de felicidades à entrada das casas.

Na Península Ibérica o Dia de Reis começa a ser celebrado devido à chegada dos Frades Franciscanos e Dominicanos a este território. Este facto permite sublinhar a importância de Alenquer no processo de difusão desta celebração. Em Portugal, foi na região do concelho de Alenquer que estas Ordens foram primeiramente acolhidas entre 1212 e 1218 Frei Zacarias chega a Alenquer para fundar um convento Franciscano e Frei Soeiro Gomes, primeiro provincial dominicano da Península Ibérica (1221-1223) funda, no termo do concelho de Alenquer, no alto da Serra de Montejunto, o primeiro convento Dominicano português.

Identificação

Práticas sociais, rituais e eventos festivos
Festividades cíclicas Rituais colectivos
O Pintar e Cantar dos Reis (Cantar dos Reses ou Cantar dos Reis)
Grupo dos Reis da Ota
não se aplica

Contexto de produção

Ota
não se aplica

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.

Ações promovidas pelo Grupo dos Reis da Ota:

Garantir a execução do Pintar e do Cantar dos Reis na sua povoação;  Garantir a transmissão da prática, motivando e ensinando as gerações mais novas; Reunir os recursos necessários para a execução da expressão cultural (materiais e humanos); Associar-se como parceiros às ações de salvaguarda promovidas pela Câmara Municipal.

Ações promovidas pela Câmara Municipal de Alenquer:

Apoio logístico aos Grupos dos Reis do concelho de Alenquer; Estudo e Inventariação do Pintar e Cantar dos Reis no concelho de Alenquer (2016); Realização de um documentário sobre a expressão cultural (2016); Publicação de um livro sobre a expressão cultural; Continuação da organização dos Encontros sobre o Pintar e Cantar dos Reis entre os membros de todos os grupos (já promovidos em 2013, 2014, 2015 e 2016)  Continuação da organização do "Roteiro Turístico Noturno" - que permite assistir ao Pintar e Cantar dos Reis em várias povoações, na noite de 5 para 6 de janeiro. Atividade promovida com o consentimento dos Grupos e respeitando o recato da manifestação (já promovido nos anos de 2015 e 2016).

Em Ota várias gerações estão envolvidas na organização da tradição. A comunidade não considera a celebração em risco ou ameaçada e a transmissão geracional dos conhecimentos e práticas encontra-se atualmente assegurada pelo Grupo dos Reis. São visíveis, contudo, alterações que podem colocar em risco a elaboração de certos desenhos tradicionais  (o desenho dos corações floridos). Os desenhos têm sido substituídos pela inscrição das siglas BF junto ao ano.

Contexto territorial

Ota
Ota
Alenquer
Lisboa
Portugal

Contexto temporal

2015
Realiza-se anualmente na Noite de Reis - de 5 para 6 de janeiro

Património associado

Não se aplica.

Instrumentos para pintura - compasso.

Não se aplica.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
activa
Descrição da transmissão
Aprendizagem informal Aprendizagem combinada oralidade/escrit Acesso livre Periódico Com recurso a lugar
Agentes de tramissão

Conhecedor do ritual, o apontador é usualmente o elemento que assume o papel de porta-voz do grupo e partilha com o pintor mais velho e com os elementos mais dedicados ao grupo a responsabilidade de manter a prática transmitindo-a às novas gerações.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Registo vídeo / audio
José Barbieri, Carolina Carvalho, Eva Ângelo, Filomena Sousa, Maria Ana Krupenski e Miguel Martinho
Entrevista
Filomena Sousa e José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL