Inventário PCI
Relato sobre Zé Caturno, o carvoeiro, o pagamento dos direitos paroquiais e a sua vida trabalhosa e pobre.
Costumes tradicionais (trabalhar de graça para a igreja; roubar)
Transcrição
- "E o Padre antigamente, por exemplo: muita gente aqui que pensava que ia para o céu, compravam o céu. Então, se não tinham filhos deixavam o dote deles, os campos, as propriedades, deixavam à igreja. Então quando chegava a altura de vindimar ou de desfolhar, a apanha do milho e tudo, a gente ia lá trabalhar de graça.
Houve então um carvoeiro que lhe disse: «Senhor Zé, você tem que vir dar um dia à igreja.» - que para pagar os direitos paroquiais havia que dar um dia de graça, trabalhar. «Senhor Zé, o carvoeiro. Você tem que vir dar o seu dia à igreja.».
E diz-lhe ele «Olhe, senhor Abade» - que nós aqui tínhamos abadia - «Segunda: arriba. Terça: abaixo. Quarta: arriba. Quinta: abaixo. Sexta: arriba. Sábado: abaixo.» «Venha no Domingo!». [Risos]
Outra vez esse tal Zé foi-se confessar, era o Zé Caturno. Foi-se confessar. Os carvoeiros roubavam a lenha. A gente aqui já tinha uma tolerância, não cortando por pé, podiam tirar, porque eles eram pobres, para sobreviver. E então roubava lenha. Dizia-lhe: «Senhor Abade, você sabe. Eu confesso que tenho que roubar lenha.». E diz ele [o Abade]: «Para eu o absolver aqui tem que dizer mais ou menos a quantidade.». Eram feixes. E diz ele [o Carvoeiro]: «Eu sei lá, senhor Padre, talvez um feixe todos os dias. Este mês foram aí uns 25, mas ponha 26 que ao chegar a casa tenho que roubar outro que já não tenho nenhuma!». [Risos]"