Inventário PCI
Relato sobre Acompanhamentos – a reunião dos espíritos dos vivos para irem à porta daqueles que estariam prestes a falecer.
Caso real que reflete a crença no duplo (alma fora do corpo; presságios de morte).
Transcrição
Eles até eram os vivos, mas iam só com o pensamento. As pessoas não iam mesmo as próprias, ia o espírito delas. Era o espírito delas que saía daqui e iam à porta do que estava para morrer. Mas não iam elas, só ia o espírito delas! As pessoas eram pessoas vivas, mas ia o espírito delas, o pensamento. Iam no pensamento buscar a outra pessoa que estava a morrer.
Então a minha tia era muito afoute, muito atarracada. Era assim resolvida para as coisas, não tinha medo. Então saiu daqui da vila de onde estamos, para um lugarzinho acima, a dois quilómetros longe daqui. Ia assim por um caminho arriba, (...) [que] lá está ainda e estará até sempre. (...) Como moía e não tinha um moinho na casa - agora já tínhamos, mas antigamente não tínhamos. Eu ainda me [lembro] de ir ao moinho buscar sacos de farinha, para cozer, mesmo o centeio, para cozer o pão para comer.
Nós vivíamos com coisas naturais, não vivíamos, como há agora, com coisas artificiais. Eram naturais. Trabalhávamos nós e colhíamos o centeio, chegávamos e fazíamos-lhe tudo e malhávamos e depois tínhamos centeio para botar aos animais e para [comermos].
Então, a minha tia saiu daqui era meia-noite e foi colher um saco de... até era um fole. Porque antigamente matavam as cabras e depois faziam daquilo [da pele] sacos. Punham-nos a curtir como elas sabiam, na corte, (...) e depois punham-nos a curtir na corte dos animais. E botavam-lhe sal e vinho e essas coisas, a curtir. Depois lavavam e aquilo ficava um fole para colher, para levar farinha, para levar centeio, para levar tudo. E a gente antes como não tinham sacos, vingavam-se daquilo. Faziam aquilo e aquilo durava muito. Não se picava nem nada, então levavam aquilo.