A valsa mandada, que encontramos em várias aldeias dos concelhos de Grândola e Santiago do Cacém, no litoral do Alentejo, pode ser considerada a principal dança presente nos bailes do campo, ou bailes do monte, também chamados de funções ou funçanadas. Há notícias destes bailes, realizados pela população rural da região, desde a segunda metade do século XIX. Esta dança, também designada por valsa sagorra, pode ser dançada ao longo de toda uma noite compondo um baile inteiro. É uma valsa de três tempos, atualmente tocada maioritariamente na concertina ou no acordeão, instrumentos identificados pelos dançadores locais como "os do toque da valsa". Há tempos, a valsa terá sido tocada no instrumento disponível: como a guitarra ou a gaita de beiços. O importante era viabilizar o toque. A música destas valsas é somente instrumental, porque o mandador, ou os mandadores – figuras centrais no desenvolvimento do baile – falam durante toda a música; mandam quais devem ser os passos executados pelos bailadores, pelo que não há espaço para modas cantadas neste repertório. Segundo os dançadores e tocadores, existe um sem-fim de músicas por eles identificadas como valsas mandadas. São, na sua maioria, consideradas de domínio público, não se sabendo identificar por quem ou quando teriam sido compostas. Algumas exceções são peças de tocadores renomados como Joaquim Dimas e seus filhos José Dimas, António Dimas e Hermenegildo Dimas, Manuel Louricho e Fernando Augusto, que nunca foram registadas, sendo em alguns casos já consideradas em domínio público. A valsa mandada é dançada em uma roda de pares. O homem fica à direita da mulher, diferenciando-se da posição base do par nas rodas de muitas danças populares. Costuma-se dizer que, ao ouvir o toque da valsa, os casais vão se formando e seguem para o centro do salão, mantendo-se num passo de dois tempos. Quando a roda está formada, o homem do primeiro casal que foi ao centro é o mandador que inicia uma sequência de mandos, começando pelo passo básico chamado singelo. Depois de concluir a sua sequência (cujo número de mandos é aleatório), o mando é passado ao próximo homem da roda a fim de que todos possam mandar. A passagem do mando segue o sentido anti-horário, no qual se desloca a roda e em geral faz-se com as seguintes intervenções: "fica no singelo e manda adiante" ou "vai o mando". Nos dias atuais, poucos são os mandadores, o que tem se tornado uma das principais dificuldades para dar continuidade a este baile.
in Cadernos de Dança do Alentejo, Lia Marchi, Celina da Piedade e Domingos Morais.
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