O galo
Havia um galo que era assim: esgravatava no meio de tudo – das galinhas, dos galos dos pintos, dos perus.
Galo – Quiriquiqui! Eu chamo por o carimbo d'ouro e quero ir casar ca filha do rei!
Empregado – Ó patrão! – Disse o empregado ao patrão. – Ó patrão, atão, o galo é só dizer que quer ir casar com a filha do rei! Chama por o carimbo d' ouro!
Patrão – Olha, leva lá o galo e mete-o lá dentro da talha do azeite. – E atão foi.
Mas o galo, antes disso, apanhou uma pedra e... Bom, ele lá apanhou aquelas coisas todas.
E atão levou o galo.
O me' belo galo largou lá a pedra... – Pisssst! – A talha do azeite foi[-se] e o galo saiu pra fora. Foi, outra vez:
– Quiriquiqui! Chamo pelo carimbo de ouro, quero me ir casar ca filha do rei.
Empregado – Ó patrão! O galo é só cantar que quer ir casar com a filha do rei.
Patrão – Olha, vai lá metê-lo dentro do forno e faz um (...). Qualquer marcha.
Ele foi pra dentro do forno, foi! Mas ele abriu o rabito, largou ali a água, apagou o forno e saiu cá pra fora. E, atão, no fim, o galou cantou, outra vez:
– Quiriquiqui! Eu chamo por o carimbo de ouro, quero-me ir casar ca filha do rei.
Empregado – O que é que a gente faz ao galo, patrão?!
Patrão – Olha, 'tão além as mulheres a descamisar milho, tu levas o galo e dizes às mulheres que abafem lá todas o galo, lá debaixo!
Mas atão o galo tinha o abespreiro lá dentro. Assim que o galo lá abana o rabito, ora as abespras de roda do rabinho das senhoras – ai mãe! Aquilo é que foi fugir!
Ninguém conseguiu fazer nada do galo! O galo cantou sempre que queria ir casar ca filha do rei, mas acabou por não casar ca filha do rei! Mas também não o mataram, porque ele mordeu as senhoras todas e ninguém faz nada dele. E ficou sempre valente!
Maria Bernardina, Mora, Junho de 2007