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"Do ponto de vista geográfico, sim. Do ponto de vista das sonoridades e do modo de cantar, o canto polifónico do Baixo Alentejo é único e, portanto, aqui a proximidade com a Beira Baixa faz mais sentido do que a proximidade geográfica. E também pela vivência que as pessoas acabam por desencadear de acordo com a relação mais próxima, mais de vizinhança, chamemos-lhe assim. E, portanto, se nós entrarmos pela Beira Baixa encontramos lá modas de saias como encontramos aqui alguns temas que têm também a ver. Isto tinha a ver com as migrações que aconteciam entre as pessoas. Aqui havia algum antagonismo, nos períodos de dificuldade de trabalho, quando os homens e as mulheres da Beira Baixa vinham trabalhar para o Alentejo. Eram vistos pelos alentejanos como os “ratinhos” que vinham para cá tirar-lhe o seu posto de trabalho, mas, do ponto de vista cultural, claro que a mescla acontecia mais fortemente aqui, pela proximidade. (…) Eu acho que o tipo de cantigas que nós temos por aqui, a intervenção social é capaz de ter mais a proximidade com o Alentejo do que com a Beira Baixa, embora esta zona aqui tenha uma maneira muito especial, muito específica, não é? Este planalto aqui é assim um bocado… Não é o Alentejo, também não é a Beira Baixa, é assim uma coisa muito própria." |