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"E aí surgiu, depois de várias tentativas, um grupo de cantares. Um grupo de cantares que, no início, constituiu-se e cantou para si próprio, [risos] e dentro de portas apenas, durante cerca de um ano, temas de outros grupos.
Mas os entusiastas que tinham a ideia de lançar esta iniciativa achavam que era interessante fazer recolha e divulgar a nossa música – a música aqui da nossa região. E, por essa razão, enquanto o grupo se entrosava, se habituava a conviver (as pessoas umas com as outras), se definiam bem quais eram as capacidades de cada umas das vozes, quem fazia o quê, havia um entusiasta de bloco de apontamentos e gravador debaixo do braço no terreno, a fazer a primeiras pesquisas, as primeiras recolhas. Esse entusiasta chama-se Domingues Buxo, que é o Professor Doutor Domingos Buxo, formado em História, que trabalha na Escola Superior de Educação de Portalegre e que foi, exactamente, um dos entusiastas da constituição deste Grupo de Cantares de Portalegre “O Semeador”. Nós chamamos assim, embora a designação jurídica seja “Grupo de Cantares de Portalegre”. No entanto, como assumimos e temos essa decisão tomada de que “O Semeador” é o nosso logótipo, associamos sempre a designação “Grupo de Cantares de Portalegre – O Semeador” ou “O Semeador – Grupo de Cantares de Portalagre” E, portanto, em 1983, no dia 23 de Maio, no Dia da Cidade, numa das realizações comemorativas do Dia da Cidade, o grupo estreou-se com três modas de saias, exactamente, já fruto do trabalho de pesquisa e de recolha, já trabalhado pelo próprio grupo (na base do tal trabalho de campo do Dr. Domingos Buxo). O grupo estreou-se no dia 23 de Maio de 1983 cantando apenas três temas, que eram exactamente os primeiros três temas que foram trabalhados. Porque (durante o período que nós consideramos embrionário, que foi o tempo que ele precisou para andar no terreno a pesquisar e a trabalhar e trazer para nós depois ensaiarmos) fomos cantando, naquela fase em que as pessoas precisam de se conhecer, de interagir um pouco entre si, etc. – definição de vozes, quem fazia o quê, no fundo era isso, fomo-lo fazendo com temas já publicados por outros grupos, nomeadamente, a Brigada Victor Jara, o grupo Raízes, o grupo Terra a Terra. Mas aí cantávamos apenas para nós, nunca saímos para lado nenhum a cantar onde que quer que fosse! Porque foi-nos servindo de treino, enquanto grupo e a cada um individualmente. E ao mesmo tempo fomos trabalhando esses três temas de saias que foi depois a estreia pública. Foram apenas aqueles três temas. Depois, a partir dali, fomos trabalhando. Portanto, o momento de apresentação pública do grupo foi já com base no trabalho de pesquisa que tinha sido feito e só com aqueles três temas. Se nos pedissem bis,repetíamos uma daquelas. Portanto, eu cheguei a Portalegre em 81 e em 82 começou-se este trabalho de preparação e em 83 o grupo estreou-se. Mas sei que, por relatos vários, houve outras tentativas. Os porquês… Fundamentalmente a mobilidade das pessoas. Porque Portalegre é muito uma terra de passagem, infelizmente, na minha opinião, e isso reflecte-se também na vida desta associação e de outras também. Porque houve um período, e este grupo sempre tem tido uma componente muito grande de médicos, de professores, de engenheiros, que são profissionais, muitos deles, que passam por Portalegre – ou estão um ano lectivo ou dois, ou estão a fazer, sei lá, uma formação qualquer, no tempo eram os médicos à periferia que vinham, que estavam por aqui dois, três anos e iam-se embora. O facto de estarem, procuravam actividade, integravam-se, mas rapidamente saiam e acabava por não haver muita consolidação do trabalho que se pretendia fazer. A mudança permanente pode ser um bom elemento, mas também pode ser um factor de instabilidade e, de certo modo, parece-me que terá sido muito por aí também." |