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"E assim chegámos a 1985, onde editámos, no Ano Europeu da Música, o primeiro disco. Um disco de longa duração, de nome “Calatróia”, onde compilámos uma dezena de temas já do trabalho de recolha do grupo. E este objectivo mantém-se até aos nossos dias. Estreámo-nos, naquela altura, com vinte e oito pessoas em palco. Éramos vinte e oito membros, hoje estamos entre os dezasseis e os dezoito. Temos dezoito pessoas, mas normalmente asseguramos um concerto entre os catorze e os dezoito elementos. O “Calatróia” é a explicação… Há um dos temas que está gravado no disco que nós designámos como “As saias do ganhão” que, de certo modo, reflecte um pouco da vida do ganhão, daquele homem com trabalho indiferenciado, muito mal pago, mal reconhecido, que trabalhava na agricultura – o ganhão. E há uma quadra que diz: “Que delicado é o gánhão, que ao toucinho chama bóia, ao pão de deus marrocate, às açordas, calatróia.” Porque a qualidade da alimentação deles era tão má. Tão má, que chamar calatróia a uma açorda (que é hoje na gastronomia alentejana uma senhora) – [que], por vezes, tinha tão má qualidade, tão má qualidade – chamar-lhe uma calatróia, já era a atribuição de alguma beleza (que no fundo, na qualidade alimentar etc., não tinha). E, por essa razão, achámos que era um nome interessante para aquele disco." |