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"Começámos, exactamente, no concelho de Portalegre, foi aqui que se começou o trabalho de recolha, o trabalho de pesquisa, na freguesia de Alegrete e depois fomos alargando. O objectivo que o grupo tem é fazer este trabalho de abrangência a todo o distrito de Portalegre. O que não é tarefa fácil, considerando que somos todos amadores, que temos outras actividades também para além desta; os membros do grupo até fazem parte de outros grupos (vários de nós fazemos parte de dois, três grupos às vezes) e o tempo que acaba por ser muito pouco. E este tipo de actividade exige muita disponibilidade e muita gente a fazer coisas, porque todos somos sempre poucos para fazer um trabalho interessante e valorizar, cada vez mais, esta faceta da cultura portuguesa. Começámos em Portalegre, como eu disse, depois fomos alargando e neste momento temos temas recolhidos nos concelhos de Portalegre, mas também no concelho de Elvas, concelho de Arronches, de Monforte, de Marvão, de Nisa, de Alter do Chão (…) – estes todos já estão trabalhados e já podemos interpretá-los nos nossos concertos. E temos temas em carteira do concelho do Crato, do concelho de Castelo de Vide e agora vamos ao concelho do Gavião nos próximos dias. Sempre que temos possibilidade de ir ao contacto com alguém que está no cantinho da sua casa, da sua família, vamos na mesma. A opção pelos lares é, de certo modo, um dos recursos que nos sobra. Porque é preciso conhecer e, por vezes, fora de Portalegre ou fora dos meios de acção onde nós nos movimentamos ou onde temos alguns amigos, podemos contactar directamente a instituição a ou a instituição b do concelho y ou do concelho x que nos interessa. Por exemplo, se não temos… Vamos imaginar agora o caso do Gavião: não temos conhecimento de ninguém no Gavião. E o que é que fizemos? Contactámos com a instituição (por acaso, até acabámos por saber que conhecemos a animadora que lá está) que nos ajuda a preparar o terreno para nós entrarmos. Mas muitas vezes temos situações em que alguém nos diz: “há um velhote ou há uma velhota na aldeia tal, na rua tal, que sabe umas coisas”. Nós vamos lá. Às vezes até depois acabamos por ficar a perceber que não era bem aquilo que nós queríamos, isso também acontece muitas vezes. Mas, portanto, a modalidade que adoptamos [é] aquela que (…) que conseguimos construir, no fundo, é isso. E de acordo com as condições procuramos, vamos tentando. Este trabalho é estimulante, na nossa opinião, é muito estimulante e acaba por mostrar que o Alto Alentejo ou o Norte Alentejano, como mais recentemente se designa, para além das modas de saias tem uma outra identidade. Os seus sons tradicionais vão para além das modas de saias (que é uma coisa que está instituída em muitas cabeças – que o Alto Alentejo é a região das modas de saias. É verdade, mas é uma parte da verdade). E este trabalho de pesquisa tem mostrado, exactamente, que há uma diversidade para além dos temas das modas de saias – e há variadíssimas modas de saias –, mas há outros géneros, para além desses, que são também de uma riqueza extraordinária: cânticos religiosos, descantes de casamento, cânticos associados a várias festividades, a várias romarias, cantigas de embalar, cantigas de trabalho… Há coisas muito interessantes para além da melodia belíssima que são as várias modas de saias que há por aqui." [Fernanda canta a Cantiga de Natal] |