|
"Mais tarde, havia uma necessidade de alguém que fizesse as apresentações, porque quem o fazia saiu, e foi feito esse apelo para fazer as apresentações. E de sempre que o grupo sobe ao palco, essa tarefa cabe-me. E, portanto, isso faço há sensivelmente vinte anos. O grupo sobe ao estrado e tem que comunicar com as pessoas não apenas através daquilo que representa. É necessário que alguém vá fazendo a linha de ligação entre as várias demonstrações que se vão fazendo. E, por essa razão, portanto começamos por apresentar o grupo: dizer quem é, o que está ali a fazer, algumas pequenas notas historiais (de quando foi fundado, sempre que há ocasião para isso), quantos complementos tem – aquelas notas de identificação que, no fundo, são bilhete de identidade rápido. E depois cada um dos temas ou cada uma das demonstrações que são feitas (consoante sejam danças, cantadas ou não, ou se são alguns quadros etnográficos) há sempre uma explicação do que é que vai acontecer e isso é o trabalho que eu faço, portanto, há sempre uma apresentação continuada – uma ligação entre os vários momentos. Há uma outra faceta de apresentação que também me calha e é quando o grupo organiza, em Portalegre, os festivais, os intercâmbios com outros grupos. Aí cabe-me sempre fazer a apresentação do evento no seu todo. Há uma linha orientadora que se define porque o grupo faz demonstrações com vários tempos de duração e para vários objectivos. Consoante as premissas que estão lançadas à partida, constrói-se a apresentação e constrói-se a sequência. Pronto, vamos imaginar um festival: se nos é dado um tempo de palco de quinze minutos, imaginemos, construímos um trabalho para aqueles quinze minutos – juntamos as várias peças com alguma sequência lógica e, exactamente, sempre procurando um certo crescendo. Se são apenas danças: vemos se diversificados mais pelas danças de trabalho, se mais pelos balhos de terreiro, se mais pelas populares de inspirações palaciana ou se fazemos uma mistura (com alguma lógica) e que vamos procurando pôr, se calhar, as que podem eventualmente entusiasmar menos o público ao início e ir fazendo um certo crescendo para terminar, pronto, com alguma… Sem desvirtuar o que é, que cada dança por si só tem uma força própria, e portanto sem desvirtuar o seu valor individual, mas procurando fazer uma sequência em que vá conquistando o entusiasmo das pessoas que estão a ver – porque as reposições são exactamente uma representação que se faz, convém também que fique na memória das pessoas alguma coisa de interesse e de vontade de ver dali por mais algum tempo. É isso que se procura fazer." |