|
"A música, a este nível, as bandas filarmónicas têm que ser locais de entretenimento musical. O músico quando quer vir para a banda, quer vir aprender, tem que sentir na banda uma segunda casa, portanto. E quando isso acontece as coisas nunca param. Nunca param. Não falamos se tem boa qualidade, se tem má qualidade… Isso não interessa para este nível! O que interessa é fazer sentir às pessoas que têm aqui uma segunda casa, que têm aqui um local de entretenimento. Entretenimento esse que depois nos leva a trabalhar para fazer boas actuações, bons concertos, a criar uma boa imagem da banda, mas principalmente que seja um local de entretenimento, que eles se sintam bem, que saiam de sua casa e que – ok. Vou para a minha segunda casa! – E isso é fundamental. E eu acho que isso foi conseguido porque a banda não é só música. Quem conhece a banda filarmónica, que conhece o espaço da banda, a colectividade, há tanta coisa que à volta acontece, desde… Eu próprio estou casado hoje, tenho dois filhos com uma senhora que eu conheci na banda onde eu aprendi, que foi a banda da Arrentela, ao pé do Seixal, onde aprendi e hoje sou casado com ela e tenho dois filhos! Portanto… E comecei lá na banda! Que eu dizia ao meu pai: – ó pai, vou para a banda! Ok. Filho, vai para a banda! Eu ia para lá, claro ia para lá namorar! Portanto, isto acontece. Isto é saudável! Isto é saudável! Serviços da banda vamos todos em festa nos autocarros, passear! – Agora vamos a Manteigas! Vamos dormir, para ir à neve! – Isto é tão fundamental como a parte musical. É tão fundamental porque eu sou o primeiro a dizer a eles: primeiro que a música há o aspecto social da coisa. Eu primeiro tenho que me sentir bem e me dar bem com o meu colega para depois começar a tocar música. Está a ver? Portanto e quando isso acontece as coisas nunca param. Portanto indo ao encontro do nunca parar! Eu quando cheguei a banda pouco ou nada fazia de concertos, portanto, em palco, a banda não se apresentava em palco por variadíssimas razões. Mas eu gosto de uma banda filarmónica que faça um concerto, que seja uma banda de concerto. Depois, à parte, também fazemos touradas, também fazemos procissões, fazemos festas, que também acho que seja fundamental para uma banda. Aliás a essência da banda é o desfile na rua, o desfile, a procissão ou o animar a festa para o povo. Mas já estamos um pouquinho mais além no tempo e acho que também uma banda deve desenvolver um trabalho de palco. Esse trabalho chama-se o concerto. E a banda, na altura, não estava preparada para isso. Eu como venho de uma formação clássica, de formação de Conservatório, tive professores de direcção de banda e conseguiram-me transmitir que temos que andar em paralelo com o tempo quer dizer. E assim foi, a pouco e pouco comecei a inserir obras muito, muito, muito fáceis para eles, na altura, e agora com o passar do tempo vou começando a inserir obras mais modernas, mais actuais para ver se eles também conseguem acompanhar o tempo. Para desenvolverem também a mentalidade deles e para não passarem uma vida inteira só a tocar marchas de procissão e marchas de rua e essas coisas, que também fazem falta mas que, muitas das vezes, não são da satisfação do música – que os músicos hoje em dia são finos, só querem é concertos, ir para o palco, procissões não é nada com eles! E assim é. Eu comecei a trazer algumas obras, obras essas que, infelizmente ou felizmente, têm que ser sempre arranjadas por mim. Porquê? Porque é difícil para uma instituição arranjar um fundo de maneio para comprar obras. Porque as obras actualmente, infelizmente, estão caras! A música no nosso país está cara!" |