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"[Tocou sempre trombone?] Não. Mas eu vim tocar trombone, como já disse, porque eles, de facto, tinham uma grande falta cá de trombone porque o indivíduo que tocava o trombone, que era o Sr. Adriano Marques, tocava trombone mas, como não tinham barítono ou bombardino, ele passou a tocar o bombardino – o Sr. Adriano Marques. Pronto, passou a tocar bombardino, mas ele não gostava de bombardino (até porque o bombardino… Não é porque eu tocasse, nem eu fui nunca um músico de mão cheia, como se costuma dizer, desempenhei o meu lugar, não deixei o crédito em mão alheias, bem estendido, mas nunca fui nenhum músico excepcional), pronto, e então ele a tocar bombardino e eu vim tocar o trombone no lugar dele. Mas, às vezes, havia uns determinados muros de música que precisavam de reforço nos bombardinos. Eu estava logo lá ao lado dele, largava o trombone e estava ao lado dele para o auxiliar no bombardino. A determinada altura, ele diz para o regente que estava cá, que era o Sr. Joaquim António Casaca (já falecido de há muito ano), ele diz para ele: – ó Sr. Casaca, eu tenho aqui ao meu lado quem dá conta do seu serviço, do seu lugar no bombardino, portanto, tenha paciência o bombardino fica para este senhor e eu vou para o meu instrumento que é o trombone, que é o instrumento que eu gosto. – Mas primeiro falou comigo, se estava disposto a isso, e eu disse: – estou. Então, não estou. – Porque foi o instrumento que eu toquei sempre, em Alegrete, desde de garoto. Comecei a aprender sempre a bombardino porque o bombardino foi sempre o instrumento dos meus sonhos. Eu logo de criança, em Alegrete, havia um senhor que tocava bombardino (que por sinal era meu tio, era irmão da minha mãe), mas que tinha um gosto fantástico para solar! Aquele homem a solar, aquilo era um sonho! Aquilo até nos punha malucos a ouvir aquilo. Aquele homem fazia… Fazia, até parece que fazia chorar o instrumento! (…) Não há palavras para explicar. E então aquilo caia-me sempre cá tão bem, tão bem, tão bem, que eu ouvia uma banda, em qualquer parte, e os meus ouvidos estavam sempre só no bombardino. O bombardino era o meu instrumento, pronto! Era só o que eu ouvia, era só o que me soava bem e mais nada! E, então, passei a bombardino então cá (porque lá, em Alegrete, toquei sempre a bombardino) e por sinal, não sei se por azar se porquê, sempre a primeira parte, sempre sozinho (mesmo lá em Alegrete, sempre sozinho), sem auxiliar nenhum! E venho para aqui para a Euterpe praticamente a mesma coisa! Porque, como já disse, comecei a tocar o bombardino junto do tal Sr. Adriano Marques, mas depois ele passou para o trombone porque era o instrumento que ele gostava (que era o instrumento dele, pronto) e eu fiquei sozinho no bombardino e praticamente fiz estes trinta e cinco anos aqui na Euterpe sempre a tocar bombardino, quase sozinho." |