Inventário PCI
Beja
“Gosto pela escola”- Entrevista à informante sobre o seu tempo de escola.
Idalina Cocito; St. Clara de Louredo; Ano de nascimento: 1938; Concelho de Beja.
Registo 2010.
Histórias de Vida
Classificação: Isabel Cardigos (CEAO/Universidade do Algarve) em Setembro de 2011
Transcrição
«(…) Nasci na Santa (...), morei no monte da igreja, numa parte da aldeia - vai tudo descritos assim na’(1) é? (…)
Fui de sete meses, minha mãe na’ sabia que me estava pra(2) ter… Aparecia sem mai’(3) nem mais... Ah... Já nessa altura, já éramos dois irmãos e era eu... Não... Era uma irmã e era eu. E depois é que nasceu o outro me’(4) irmão... Depois a minha mãe andava trabalhando e tive que cuidar de mes’ irmãos... Ah... Eu sabia… A pobreza era muita! Uma pessoa enrolada aqui, enrolada ali, lá se foi criando… Pois...
(…) Fui pà(5) escola, gostava...O me’ pai, era uma coisa que me’ pai... (…) Fui pà escola com seis anos. Entrei no dia 11 de Outubro ainda com seis anos, quando fiz sete no dia 11 de Janeiro... [Fez os três anos seguidos] (…) Era muito esperta! Mas, mas atão(6), diga lá, era muito doida! Muito esperta! [Risos] ... Sabia tudo e ensinava tudo às outras, eu sabia tudo... Eu até andava na terceira classe e quase que aprendia a quarta e a admissão(7). Nessa altura, faziam admissão e a quarta tudo junto com a terceira... Eu aprendia tudo - ficava lá - a gente(8) ficávamos até à noite.
Eu, naquele dia, pertenci a uma missa… Ver que horas eram. Diz o me’ pai:
- Pai, há-de me dizer como é que é onze e meia… Porque a senhora ainda na’ ensinou e amanhã temos que dizer. - Que a gente abria assim a porta, na escola, e tínhamos que *‘tar de olho no relógio*(?) - quando era onze e meia, era tudo pra sair!
Depois o me’, o meu pai disse-me assim:
- É (…) o pequenino (…) ‘tando nas onze... E o grande na meia, nas seis - é onze e meia.
Eu sabia! E ali:
- Olhe, minha senhora, onze e meia. - Vá...E as outras na na’ sabiam, ficavam lá presas e eu na’ ficava! Qu’ eu era muita(9) maluca da cabeça!
Era terrível! Nem tão pouco vinha comer a casa (...) apoiava ali (…) a fazer as contas das outras que mandaram, dar e comer... Davam-me pão com queijo, davam-me a carne de linguiças, com pão, davam-me tudo, e eu é que ficava fazendo os problemas delas enquanto elas iam almoçar.
Idalina Cacito, Beja, Abril de 2010
Glossário:
(1) Na’ -não (pronuncia popular, uso coloquial).
(2) Pra – “para” (redução da preposição “para”, sua forma sincopada,usadano registo popular, informal -reprodução da pronúncia).
(3) Mai’ – mais.
(4) Me’ – meu.
(5) Pà – “para a” (abreviatura da contração da preposição pra com o artigo ou pronome a; uso popular e coloquial).
(6) Atão - então’ (regionalismo de Portugal, de uso informal e coloquial).
(7) Admissão – exame de entrada no liceu, no caso, a matéria de preparação para este exame.
(8) A gente- subentende-se o sujeito “nós”.
(9) Muita – muito, neste caso.
Referências bibliográficas e recursos online utilizados no glossário: http://aulete.uol.com.br; http://www.ciberduvidas.com; http://www.infopedia.pt; http://www.priberam.pt.
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Contadores de histórias que participam em iniciativas do Município de Beja. São convidados na iniciativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.