Inventário PCI

Enganar a Morte

Serpa

“Enganado a Morte”- Um velhote tenta adiar a hora da sua morte refugiando-se entre as crianças.

Francisco Galamba; Vila Verde de Ficalho; Ano de nascimento: 1922; Concelho de Serpa.

Registo 2006.

Conto maravilhoso.

Classificado segundo o sistema internacional de Aarne-Thompson: ATU 332  A Morte Madrinha [fragmento]

Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Junho de 2007.

Transcrição

Enganar a Morte

 

Não havia reformas antigamente, mas aqueles que eram empregados do Estado, que eram guardas ou polícias, arranjavam qualquer pensãozinha pròs pais.

Aquele homem era já assim idoso e o filho era guarda-fiscal e arranjou-lhe uma pensãozinha. E foi a Morte que veio buscar o velho. O velho disse-lhe assim:

– É Morte! É Morte, deixa-me viver! Mais pelo menos uns dez anos mais! Atão nunca ‘tive um tostão e agora o meu filho arranjou-me uma pensãozinha! E eu com essa pensão vou-me governando. Dá-me mais dez anos de vida!

 

Morte – Bom, atão vá lá... – A Morte deu-lhe mais dez anos de vida.

Vai que o velho (também era esperto) quando chegou o fim dos dez anos, o que é que ele pensou logo:

– A Morte vem-me buscar. E é hoje já! Há dez anos…

Despiu as calças, ficou só com a camisinha. E naquele tempo havia muita poeira, os rapazes brincavam ali na terra e urinando ali faziam *tigelinhas com a poeira*(1). Vai ele, despiu as calças, foi só com a camisinha brincar lá no meio dos rapazes e urinar ali prà poeira. Lá estava ele brincando no meio dos rapazes, cagaram aqui assim para um buraco (tu!) e ele ia, assim aos saltinhos, olhava pra cima, pa’ Morte, dizia assim:

– Mãe, papa!

 

Ele olhava para a Morte e dizia:

– Mãe, papa! Mãe, papa!

E assim foi. E a Morte na’ o levou logo. Depois ainda pensava que ia dormir no meio dos rapazes, mas disse a Morte:

– Não! Hoje vais…

Hoje…na’ se engana nada!»

 

Francisco Galamba, 84 anos, Ficalho, (conc. Serpa), Fevereiro 2006.

 

Glossário

 

(1)    *Tigelinhas com a poeira* = tigelinha de seca seca= malguinha.

«Malguinha – Num montículo de terra faz-se uma cova redonda e deita-se-lhe água lentamente e por pouco tempo, de modo a humedecer apenas o interior, com jeito, mete-se a mão por baixo da parte húmida e levanta-se esta: aí está a malguinha ou a tigelinha. Quando falta a água, os rapazes utilizam a própria urina.» (Cabral, António. (1998). Jogos populares infantis. Colecção Coisas Nossas. Editorial Notícias, p.261).

 

 

 

 

 

 

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
Enganado a Morte
1922
Francisco Galamba

Contexto de produção

Contexto territorial

Vila Verde de Ficalho
Vila Verde de Ficalho
Serpa
Beja
Portugal

Contexto temporal

2006
Hoje sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Serpa e de escolas

Património associado

Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Serpa e de Beja. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.

Em 2010/2011 o Agrupamento de Escolas de Serpa como o projecto "Contos d'Aqui" entrevistou e levou à escola a Susete Vargas de Vale do Poço e a Francisca Calvilho de Vila Verde de Ficalho, mais duas contadoras de histórias do concelho de Serpa (ver o blog em "Documentação")

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
Cristina Taquelim
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL