Inventário PCI
Cuba
“A raposa e o lobo” - A raposa ensina ao lobo como entrar numa queijaria, mas a avidez do lobo logo o deixa em sarilhos…
António Caeiro; Vila Ruiva; Concelho de Cuba.
Registo 2006.
Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Junho de 2007.
Transcrição
Eram uma raposa e o lobo, né(1)? E então a raposa, muito espertalhona que era, descobriu a maneira de conseguir entrar dentro da rouparia(2). Por um buraco lá de uma janela ia-se aos queijos do roupeiro(3) e * mamava-lhe os queijos *(4)!
O roupeiro chegava lá, achava falta dos queijos. Via pistas(5) no soalho: “que raio?! Mas que raio de bicho é que entra aqui, pá?!”
E a raposa andava gorda! E o lobo magrinho! Dizia o lobo:
– Ó comadre raposa! Mas o que é que tu fazes pa’ andares…?
Raposa: – Olha(6) vou ali à rouparia do roupeiro e encho a barriga de queijo!
Lobo – E como é que consegues…?
Raposa – Entro lá por aquele buraco… – Lá lhe ensinou. – Vai lá também!
Assim foi. Eh! O lobo andava cheiinho de fome, assim que lá chegou, não ‘teve com meias-medidas(7). Ah! Mas a raposa, esperta que era, quando via mais ou menos que estava já bastante cheia, vinha experimentar se passava no buraco. Se conseguia ainda voltava atrás, ia comer mais um queijo. E assim fazia até passar pelo buraco – já na’ comia mais, vinha-se embora.
O lobo assim que se apanhou lá na rouparia, cheiinho de fome como ‘tava… Oh! Comeu, comeu, ficou com uma pança enorme! Quando veio para se vir embora a cabeça passou, mas a barriga já não passou.
O roupeiro já andava desconfiado, veio à procura do bicho. Apanhou-o lá! Deu-lhe uma sova com um pau. O pobre do lobo lá teve que, de qualquer maneira, passar pelo buraco.
Foi-se queixar à raposa:
– Aaaaaahhhh! Ó raposa! Tu enganaste-me!
Raposa – Enganei nada! Atão(8)?
Lobo – Atão na’ vês…
Raposa – Foste um bruto! Comeste até mais não querer! Depois apanhaste porrada(9) do roupeiro!
António Caeiro, 73 anos, Vila Ruiva (conc. Cuba), Fevereiro 2006.
Glossário:
(1) Né? Contração do advérbio não e da forma verbal é “não é”?
(2) Rouparia: divisão especial que existia nos montes alentejanos destinada ao fabrico do queijo. Tal nome deriva dos imensos panos (roupa) usados no fabrico do “queijo de Serpa” – usavam-se, por exemplo, panos de lã para filtrar o leite, tiras de pano-cru para cingir o queijo ou fraldas para escorrer o requeijão, etc. Cuba é uma das zonas de produção deste queijo.
(3) Roupeiro: regionalismo que designa o artesão que faz queijos de ovelha. Assim conhecido por trabalhar na “rouparia”.
(4) Mamava os queijos: ingeria em grandes quantidades e com avidez.
(5) Pistas: rasto de animais no solo.
(6) Olha: escuta! Ouve! Presta atenção!
(7) Não esteve com meias-medidas: não hesitou.
(8) Atão: regionalismo de Portugal, de uso informal e coloquial, que significa “então”.
(9) Porrada: sova de pau.
Para execução deste glossário consultaram-se os websites e dicionários: http://www.ciberduvidas.com/;
http://www.seleccoes.pt/article/10900http://www.seleccoes.pt/article/10900; http://www.cm-serpa.pt/artigos.asp?id=1127; http://www.infopedia.pt/; http://www.priberam.pt/ e Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. 2ª. Edição, Dicionários D. Quixote; 34. Lisboa: Publicações D. Quixote.
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Cuba e de Beja. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.