Inventário PCI

O Pedro e o Gigante

Mora

"O Pedro e o Gigante" - Pedro vai trabalhar para um gigante e através da sua esperteza e artimanhas engana-o.

Maria Augusta; Mora; Concelho de Mora, Évora

Registo 2007.

ATU 1049 A Corda Comprida (O Machado Pesado) + ATU 1063 O Burro no Céu (Arremesso de uma Moca)

 

Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Junho de 2007.

Transcrição

Pedro e o Gigante

 

Era uma vez um gigante. E vivia aqui no Alentejo. E tinha um grande condado, por conta própria. Tinha um grande rebanho de porcos, um grande rebanho de ovelhas. Tinha de tudo. Já se sabe! Mas era assim um bocadinho... maniento! Um bocadinho assim difícil de aturar. E atão os criados na' paravam lá!

Ele, um dia, aborrece-se e diz assim:

– Vou à aldeia mais próxima à pergunta de um rapaz! Isto assim na' pode ser! Eu andar aí a guardar o gado todo na' pode ser. – Ele era gigante dava a conta a tudo, mas mesmo assim... Andava já cansado.

E vai à próxima aldeia e encontra-se com um rapazito.

Gigante – Como é que tu te chamas?

Pedro – Pedro.

Gigante – Atão, queres ir pra lá pà minha casa? Olha, eu tenho lá muito gadinho, tenho de comer, tenho... – am, am...

O rapazito andava cheio de fome, coitadito...

Pedro – Vou. Na' havia d' ir. Vou, sim senhora. De boa vontade.

E foi. E chegou lá, para onde é que ele foi? Guardar as ovelhas (deixou em casa a mãe e o pai e uns poucos irmãos, tudo a cair de fome), mas começa a pensar: 'pera lá aí! Tu és rico, os meus são pobres. – Vá um borreguinho! Pòs pais.

Hum... O patrão... Foi um, foi dois, foi três, foi quatro, foi cinco... Acha falta dos borregos, diz-lhe assim:

Gigante – Ó Pedro! O que é que é feito dos nossos borregos?

Pedro – Oh! Oh! É os lobos que os comem! – Humm, o gajo engoliu-a...

Ao passando um tempo, volta por ali, faz-lhe assim:

Gigante – Ó Pedro! – O gigante começou a achar que ele que era esperto! – Ó Pedro! Vamos lá ali à fonte buscar uma cântara de água.

O gigante pega numa g'ande bilha e o Pedro numa pequanina!

Gigante – Vá! Leva lá esta, que eu levo esta.

Mas o Pedro que era muita esperto! Levou a enxada... O patrão enche a cântara de água, vai pa' pôr a cântara ao ombro e o Pedro andava a cavar... E diz o gigante pò rapaz:

Gigante – Ó Pedro! O que é que tu andas a fazer?!

Pedro – Ando a levar a fonte logo toda de uma vez! Escusamos de vir à fonte tanta vez!

Gigante – Ó pá, deixa lá isso! Anda. Deixa lá a fonte, vamos embora. – Foi-se embora.

Hein...Passou-se uns dias, o gigante sempre ca mania que havia de enganar o Pedro! E o Pedro, com esperteza, que na' se havia de deixar enganar plo gigante. Assim foi. Um belo dia, diz pò Pedro:

Gigante – Ó Pedro! Temos de ir além ao pinhal, à lenha.

Pedro – 'Tá bem.

O Pedro pega numa g'ande corda e lá vai ele! Chega lá, ata a corda a um pinheiro, deu a volta, diz-lhe o patrão assim:

Gigante – Ó Pedro! O que é que tu andas a fazer?!

Pedro – Oh! Oh! É pa' levar já o pinhal todo! Atão! Vale alguma vez a pena a gente andar sempre a carregar lenha às machinhas?! Levo já o pinhal todo!

O gajo ficou assim: – eh, pá! O gajo é muito mais valente do que eu! Tenho medo dele! Ele é mais valente do que eu.

Gigante – Bem, deixa lá isso!

Deita mãos a um ramo de um chaparro – bumba! – parte uma pernada e deita mãos a um ramos de um pinheiro... O gigante levou pra lá um sobreiro às costas e que era uma beleza! E o Pedro com um raminho de pinheiro, todo ele bailava o fandango debaixo do pinheiro.

Gigante – Ó pá! Atão tu vais a fazer o quê?

Pedro – Olha, vou a bailhar fandango! – Ele ia mas era à rasquinha, que já não podia com aquilo! 'Tava a enganar o gigante! – Ah! Aquilo passou-se.

Um belo dia, diz o gigante: – Hoje vou apanhar o rapaz na ratada. Vou, vou.

Chega lá, o gajo vê-o vir:

Pedro – Eh, pá! – Pôs-se a olhar assim pra cima. – Acabei de enganar o gajo hoje! – Pôs-se assim a olhar... Lá muito em cima andavam dois milhafres. – Hum...'Tou safo!

Chegou o gigante e diz pra ele:

Gigante – Ó Pedro! O que é que estás a fazer?!

Pedro – Ó patrão, sabe o que eu estou a fazer? Olhe lá além, pra cima. Vê além aquelas coisas, além no ar?

Gigante – Vejo.

Pedro – Sabe o que foi? Um gajo que aqui chegou com um burro e umas cangalhas a roubar-lhe os borregos! E eu preguei-lhe cá um destes pontapés, olhe lá aonde ele foi! Onde eles andam! E faço-lhe o mesmo a você, se você quiser, se vier aqui pa' contender comigo!

Gigante – Ó pá! – O gigante – espera lá aí! – Mandou-lhe cumprimentos – pssssisst – ele aí vai!

E o Pedro venceu o gigante! Foi valente! Os Pedros são todos valentes!

O meu conto tá acabado!

 

Maria Augusta, Mora, Junho de 2007

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
O Pedro e o Gigante
1932
Maria Augusta

Contexto de produção

Contexto territorial

Mora, Casa da Cultura de Mora
Mora
Mora
Évora
Portugal

Contexto temporal

2007
Hoje sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Mora e escolas

Património associado

Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Mora. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas. Participam em iniciativas do Fluviário de Mora e da Casa da Cultura. Destacam-se as seguintes actividades desenvolvidas desde 1999:

- Encontro de Contadores e Histórias - 1999 a 2005

- Ti Tóda - Conta-me eum conto, estafeta de contos - 2001 a 2004

- As lendas vão à escola - 2005

- O Talego Culto - 2007

- O Talego ambiental - 2007 a 2008

- Comunidade do Canto do Lume

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL