Inventário PCI
Mora
"Corre corre cabacinha" - Através da astúcia uma velhinha escapa a um lobo guloso.
Maria Augusta; Mora; Concelho de Mora, Évora
Registo 2007.
Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Julho de 2007.
Transcrição
Era uma vez uma velhinha. Bem, coitadita, na' tinha mais ninguém, vivia sozinha no meio de uma floresta.
Mas, noutros tempos, tinha tido uma filha. A filha entretanto cresceu, fez-se mulher, fez-se uma senhora, foi pra Lisboa. Lá, arranjou um rapaz pa' namorar e tratou do casamento.
E a velhinha sempre lá a viver na floresta. Um belo dia, chegou-lhe a filha à porta (um grande automóvel, tudo muito preparado) pa' convidar a mãe pò casamento. E disse-lhe a mãe:
– Ó filha! Como é que tu queres que eu vá pò casamento, se eu vivo aqui no meio de uma floresta destas?! Atão, os lobos comem-me no caminho!
Filha – Na' comem! Ó mãe na' tenhas medo, que os lobos na' te comem! Vá!
Bem, assim foi. A velhota lá foi. Chegou assim a um cerrozinho, apareceu um lobo com os dentes arreganhados!
Lobo – Ai, velha! Que eu agora como-te!
A velha, esperta, (as velhas são todas espertas) disse pra ele:
– Olha! Olha lobo, vamos fazer aqui um contrato. Na' me comas! Que eu agora vou ao casamento da minha filha, como lá muita carne e muito bolo e venho de lá mais gorda! Atão, depois tu comes-me.
Lobo – 'Tá bem! – O lobo muito guloso. – 'Tá certo.
Lá foi a velhinha. Ora, um grande casamento: comeu, bebeu, comeu, bebeu... Passou três dias naquela vida... A velha já não parecia a mesma! Nisto aproximou-se a hora de ela se ir embora e começou a chorar! Disse-lhe a filha:
– Ó mãe, tu 'tás a chorar de quê?
Velhinha – Ora filha... Atão eu combinei com o lobo, quando vinha pra cá, que vinha ao teu casamento e agora à volta, pra lá, é que ele me comia que eu 'tava mais gorda! E agora ele 'tá lá.
Filha – Olha, na' tenha medo! Na' há problema. Tome lá esta cabaça(4). Quando for lá quase a chegar, meta-se dentro da cabaça. Você sabe o que é que há-de fazer!
Tal e qual! Quando ia lá a chegar ao cerrozinho lá estava o lobo. A velhota pensou "bem, é aqui que o lobo deve de estar". Lá se enrolou toda dentro da cabacinha, quietinha dentro da cabacinha, e lá foi a cabacinha a rebolar. Parou-a o lobo! Disse o lobo:
– Ó cabacinha! Tu não viste p'aí uma velhinha?!
Cabaça – Eu na' vi cá nem velhinha, nem velhão! Rebola cabacinha, rebola cabação! Leva- -me à minha casinha, leva-me ao meu casão! E tu lobo ficaste aí feito gulosão, que na' meteste o dentão!»
E pronto. Assim o enganou!
Maria Augusta, 75 anos, Mora, (conc. Mora), Junho de 2007.
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Contadores de histórias participam em iniciativas do Município de Mora. São convidados para participar na inicativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas. Participam em iniciativas do Fluviário de Mora e da Casa da Cultura. Destacam-se as seguintes actividades desenvolvidas desde 1999:
- Encontro de Contadores e Histórias - 1999 a 2005
- Ti Tóda - Conta-me eum conto, estafeta de contos - 2001 a 2004
- As lendas vão à escola - 2005
- O Talego Culto - 2007
- O Talego ambiental - 2007 a 2008
- Comunidade do Canto do Lume