Quatro filhos e dois pais envenenados morreram

com gorgomelos⁽¹⁾ guisados que à noite, à ceia, comeram.

Foi num sábado à noite que essa ceia comeram,

logo na segunda-feira três criancinhas morreram.

Tinha a mais velha sete anos , ela Ester se chamava,

a do meio tinha cinco, a mais nova ainda mamava.

Vinha Manuel António da Jurumenha(?) guardar,

deixou a capa no caminho por não poder aguentar.

Levanta-se o pai da cama, seus filhos foi a ver:

- ^*Vós ides pràs púrpura^(2)*e eu em breve vou morrer.

Dizia Maria das Neves - (que era a mãe)- suspirando e dando ais:

- os sinos pra minha casa não param de dar sinais⁽³⁾. (…)

Dizia Manuel António que nada disso comeu:

- morre meu pai e irmãos, a pouco só fico eu.”

Maria Amélia Guerra, Mora, Vimioso, Outubro de 2010

^Glossário:

^{(1) Gorgomelos – por hipótese, cogumelos. Carece de confirmação.}

^{(2) Ides pràs púrpura – por hipótese, referência  a uma doença caracterizada por manchas purpúreas na pele e nas mucosas por extravasamento subcutâneo do sangue, ou referência à doença Púrpura de Henoch (associada a problemas digestivos nomeadamente, a diarreia, vómitos) ou a Púrpura de Schönlein (distúrbios nas articulações). Carece de confirmação.}

^{(3) Dar sinais – dobrar sinos pelos finados, ou seja, tocarem os sinos de um certo modo que anuncia a morte de alguém; toque de sinos em situações de luto.}

^{Para a execução deste glossário consultaram-se:http://aulete.uol.com.br; http://pt.wiktionary.org; http://www.infopedia.pt; http://forum.wordreference.com/showthread.php?t=670516}