Inventário PCI
Vimioso
"O tio e a bruxa" - Um rapaz “descobre” uma bruxa e esta faz-lhe das suas até ser ameaçada.
Maria Amélia, 1926. Vimioso
Registo 2010.
História de Bruxas
Transcrição
O tio e a bruxa
«Portanto, agora na sementeira(1), ainda não havia assim muito frio, fazia-se fogueira às portas e depois as pessoas iam a fiar e sentavam-se ali, à roda da fogueira, a fiar. E também lá estavam a falar nas bruxas (como agora aqui).
E diz assim o meu tio:
- Tanto me dá que faleis, como não faleis – bruxas não hai(2)!
E uma saltou-se a rir:
- Ah, António sempre dizes que não há bruxas! - Ia el[e] trazendo-a por bruxa. - Ah, António sempre dizes que não há bruxas!
António - Não! E se hai aí alguma, que se vá deitar hoje comigo!
E, dali a catchico(3), consoante sai a aldeia toda, dali a um catchico, que ele vem dizer- -lhe a ela - lá estava ela!
António - Na’ me digas que vens agora pra mim a esta hora?!
Mas nada de falar! Não lhe falou, nem nada. Só entrou… Disse um palavrão pra ela: que a agarrava, que a (…), não sei quê… Achou-a diferente. Ele! Achou-a diferente, tão diferente que ninguém a julgava na vida.
E a’pois(4) um dia que ia passando ela ao pé dele, mas disse que já não passava aquase(5) nunca ao pé dele, e aquele dia disse que passou:
Bruxa - Ah, António, então já estás muito doente?
António - Olha, mas eu queria-te dizer uma coisa.
Bruxa - Olha, então, diz-ma. Então diz-ma.
Diz: - Ó sua puta, tu é que me trazes isto! Ou me curas ou quando nos teus dias vão ser (…).
Bruxa - António, não me maltrates! E não no digas! Que se eu desejo as minhas colegas afogam-te! Então não no digas. E amanhã curas-te.
E já criava bichos… A minha avó, a mãe dele, diz-se que era muito limpa, muito, muito asseada e que se lhe havia de amanhar(6) hoje a cama, ao outro dia, a amanhar, disse que já estava cheia de bichos! Não eram piolhos! Disse que eram bichos, cocos(7) mesmo.
E disse que quando meteu esse cagaço(8) à tal, não tornou a ver nem bichos, nem doença, nem coisa nenhuma! Logo curou tudo. Essa contava-me, às vezes, a minha mãe, Deus me perdoe!»
Maria Amélia Guerra, Mora, Vimioso, Outubro de 2010
Glossário:
(1) Sementeira – tempo, época, em que se lançam as sementes à terra.
(2) Hai – existem.
(3) Catchico – “cachico” em Mirandês (2ª. língua oficial de Portugal); “bocadinho” em português.
(4) A’pois – “a seguir”,“depois” (uso popular e coloquial).
(5) Aquase – “quase” (uso popular e coloquial).
(6) Amanhar – arranjar, no caso, a cama.
(7) Cocos - bactérias arredondadas, esféricas.
(8) Cagaço – susto, medo.
Neste glossário consultaram-se: http://aulete.uol.com.br; http://www.mirandadodouro.com/dicionario/traducao-portugues-mirandes/bocadinho/; http://www.mirandadodouro.com/dicionario/traducao-portugues-mirandes/bocadinho/; http://www.infopedia.pt;http://jardimdeurtigas.blogspot.com/2009/03/dicionario-alentejano-portugues-b.html
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.
Contexto de transmissão
Residentes do concelho de Vimioso que são convidados para iniciativas do Município e Biblioteca de Vimioso. Principais actividades desenvolvidas que estas manifestações culturais:
Sons e Ruralidades em Vimioso
ANAMNESIS - Encontro de Cinema, som e tradição oral.
Feira de artes, ofício e sabores
(ver links em documentação)