Inventário PCI

O rico e o pobre

Idanha-a-Nova

"O rico e o pobre" - Sobre as desigualdades sociais a insensibilidade dos ricos face ao pobres

Maria Luísa, Ano de nascimento 1945.

Idanha-a-Nova

Registo 2010.

Cantiga

Transcrição

O rico e o pobre

 

Andamos aqui cantando,

não é prò(1) nosso bem-estar!

É plo(2) nosso espairecimento.

Conhecermos tanta gente,

com a fome a trabalhar!

É pló nosso espairecimento,

conhecermos tanta gente

com a fome a trabalhar!

 

Ricos havia-os de haver,

mas é vendo a trabalhar!

Pra(3) quando lhes desse a fome,

se lembrariam do pobre,

ó despois(4) de experimentar!

Pra quando lhes desse a fome,

se lembrariam do pobre,

ó despois de experimentar!

 

Há ricos nas suas casas

cheios até ao telhado!

O pobre anda trabalhando,

o sustento(5) vai faltando.

Isto dá mal resultado!

E o pobre anda trabalhando,

o sustento vai faltando.

Isto dá mal resultado!

 

Há ricos nas suas casas

com dinheiro a mais no bolso!

E ainda se galanteiam

do pobre não ter prà(6) ceia(7),

nem ter que pôr prò almoço(8)!

E ainda se galanteiam

do pobre não ter prà ceia,

nem ter que pôr prò almoço!

 

Anda o pobre, coitadinho,

*do nascer do sol ao pôr*(9)!

Ando o pobre, coitadinho,

do nascer do sol ao pôr!

Come um almoço fraquinho,

de pão só um bocadinho,

há ceia não tem que pôr!

Come um almoço fraquinho,

de pão só um bocadinho,

há ceia não tem que pôr!

 

Vão os ricos passear

e dão vivas a Portugal!

Ao almoço comem pescada,

ao jantar galinha assada,

sem do pobre se lembrar!

Ao almoço comem pescada,

ao jantar galinha assada,

sem do pobre se lembrar.

 

Com a enxada na mão

anda o pobre já cansado.

O rico vai visitá-lo,

ainda diz que não faz nada,

fica o pobre envergonhado!

E o rico vai visitá-lo,

ainda diz que não faz nada,

fica o pobre envergonhado!

 

Ricos havia-os de haver,

mas é vendo a trabalhar!

Pra quando lhes desse a fome,

se lembrariam do pobre,

ó despois de experimentar!

Pra quando lhes desse a fome,

se lembrariam do pobre

ó despois de experimentar!

 

Maria Luísa, Zebreira, (concelho de Idanha-a-Nova), Setembro de 2010

 

 

 

 

Glossário:

(1) Prò contracção de “para o” - uso popular e coloquial (contração da preposição pra com o artigo ou pronome o).

(2) Plo – redução de “pelo” - uso popular e coloquial ( aglutinação da prep. per e do pron. dem. masculino lo (arcaico).

(3) Pra – redução da preposição “para” - uso informal e coloquial.

(4) Ó despois – depois.

(5) Sustento – as condições e os meios materiais que permitem a subsistência.

(6) Prà – contração da preposição pra com o artigo ou pronome a - uso popular e coloquial.

(7) Ceia – quem trabalhava no campo, antigamente, entre as 19 ou 20 horas ou, por vezes, mais cedo, tomava a ceia (sopa e/ou  sopa pão com alguma coisa).

(8) Almoço – almoçava-se entre as 8 horas e as 10 horas (hoje comparável  a um pequeno-almoço com alimentos sólidos). Quando se pegava ao trabalho, ao nascer do sol, entre as  6 e as 7 da manhã, tomava-se o chamado “mata-bicho” ou desjejum, depois almoçava--se, jantava-se entre as 12 horas e as 13 horas (uma sopa e um conduto), poder-se-ia merendar entre as 16 ou 17, e ceava-se entre19 ou 20 horas.

(9) Do nascer do sol ao pôr – os assalariados agrícolas tinham o seu horário de trabalho baseado nas horas solares: trabalhavam de sol a sol, ou seja, desde o nascer do sol até ao pôr do sol. A hora do almoço correspondia à metade entre o almoço e o meio-dia e a hora do jantar à metade entre o meio-dia e o pôr do sol. No Verão poderiam fazer a sesta depois do jantar, entre as 12 horas e 14.00 horas.

Para a execução deste glossário consultaram-se as seguintes obras e websites:

http://www.priberam.pt;http://www.infopedia.pt/;http://aulete.uol.com.br/http://pt.wiktionary.org;SOUSA, Acácio de; SOUSA, Gentil Ferreira, CARDOSO, Orlando. (1990). Leiria – O Fascínio da Cidade. s.editor, s.ed: Leiria, p.1201.

 

 

 

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações musicais e correlacionadas
O rico e o pobre
1945
Maria Luísa

Contexto de produção

Contexto territorial

Biblioteca Municipal de Idanha-a-Nova
Zebreira
Idanha-a-Nova
Castelo Branco
Portugal

Contexto temporal

2010
Hoje sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Idanha-a-Nova

Património associado

Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Residentes do concelho de Idanha-a-Nova em festas e romarias locais e em iniciativas do Município, Centro Cultural e Biblioteca de Idanha-a-Nova. Principais actividades desenvolvidas e que promovem estas manifestações culturais:

Festas e Romarias

Romaria da Nossa Senhora do Almortão

Romaria de Nossa Senhora da Graça

Festa do Divino Espírito Santo

Os Mistérios da Páscoa

Festa das Cruzes Monsanto

Festa do Espírito Santo Ladoeiro

Festa de Nossa Senhora da Conceição Penha Garcia

Projectos

Projecto Oralidades

Festivais

Festival de acordeonistas e tocadores de concertinas

 

(Ver links em documentação)

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
José Barbieri e Filomena Sousa
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL