Inventário PCI
Sesimbra
"Poema ao Pai" : Louvor à vida de sacrifício do pai do poeta, também pescador.
Manuel Chochinha, Sesimbra, Registo 2008
Transcrição
Poema ao Pai
Descalço, à chuva e ao vento
E sem poder ir à escola;
Para ir buscar o sustento,
Chegaste a pedir esmola.
Miúdo traquina,
Que vias no mar
Algo mais longínquo
Para os teus sustentar.
Uns tempos mais tarde,
O moço do mar
Aprendeu com o mestre
Como navegar –
E como pescar.
E, vindo do mar,
Voltava contente,
Junto do seu lar
Com um quinhão,
Para poder comprar
Um naco de pão,
Para a mãe e irmão
Poder sustentar.
Com o mestre doente
O adolescente
Lá foi governar.
Homens já maduros
E considerados
Os lobos-do-mar.
O rapaz do leme
Lá foi na barquinha,
Sempre a navegar
Mas foi bom demais
Porque esse miúdo
Tornou-se um arrais[1]
O profissional,
Com altos e baixos,
Não se saiu mal:
Também enfrentou muito vendaval.
Teve cinco embarcações
E centenas de pescadores
Mas o mar, sem ilusões,
É o maior dos seus amores
Vai à lota matar saudades,
O velhinho inteligente,
Pois viu lá atrocidades:
Lembra-se das embarcações
E da sua velha campanha –
Há muita gente a falar
Menos aquele que apanha
O peixe do alto-mar.
Olha para aquelas gaivotas
Que andam a depenicar,
Essas que saem dos buracos
Sem saber o que é o mar!
O arrais, na sua casa,
Com os netinhos ao lado,
Um olhar emocionado,
Pede a Deus, quase a chorar:
“Por favor, meu Salvador,
Nunca me roubes o mar,
Porque as pescas, meu Senhor,
Já conseguiram roubar.
“Vejo o meu querido barquinho
Atracado, sem pescar.
Parece dizer baixinho:
Dá-me água, mata-me a sede
Porque esta água do mar
Já não dá para navegar…”
E com sede de pescar,
O velho baldeia o barco
E depois põe-se a chorar.
[1] Profissional da marinha mercante.
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Actividades promovidas pelo Município de Sesimbra, Biblioteca Municipal e Museu Municipal.
Comunidade piscatória da Sesimbra.