Inventário PCI
Esposende
"São Bentinho" - Numa romaria a São Bentinho, a pé e às escuras pela noite dentro, uma mulher troca acidentalmente o seu farnel de bolinhos… por fezes de burro.
Olívia Nibra, Ano de Nascimento 1937. Esposende. Registo 2010
Transcrição
São Bentinho
São Bentinho era de muitos milagres! Ia muita gente a São Bentinho, ali em Barcelinhos. Ia tudo. À meia-noite já estava tudo aqui alerta, tudo a chamar pelas portas para vir para São Bento. Nós, todas contentes, lá íamos passear. Eu ia sempre com uma minha tia, que ela tinha sempre lá uma promessa para fazer. Enquanto ela fosse viva, ela tinha que ir sempre a São Bentinho. Ia muita gente nova. Ui, Jesus! Da meia-noite… O que elas queriam era borga, por ali fora, sempre a cantar.
E então… Foi uma mulher conhecida daqui, que era a Caravelha, a Hermínia Caravelha. Era uma senhora que morava lá para a beira do cemitério. E então levava o seu farnelinho para comer; uns bolinhos! Mas pelo caminho era uma noite fechada, era escuro como um prego! Era escuro como um prego, que não tinha luzes! Nós íamos sempre pela estrada fora, mas não se via nada. Não se via nada! Numa certa altura, ela deu um tropeção e caiu. Lá foi a cesta com os bolinhos, lá foi tudo! Apanhou para dentro do tacho os bolinhos. Ela lá vinha, apalpava com a mão e pronto, apanhou assim. Ela assim:
- O tacho já está mais cheio do que o que estava!... Está mais cheio do que o que estava.
Bem, tapou. Deitou na cesta, pronto – fomos para São Bentinho. Para São Bentinho era muito escuro, muito escuro pelo caminho. Nós vínhamos umas aqui, outras ali, outras acolá, mas quando chegava na Portela, tudo se ajuntava, que tinha medo! Na Portela matavam gente e roubavam e tudo; faziam da gente o que queriam.
E então chegámos a São Bentinho. Chegámos a São Bentinho, ainda estava a porta fechada, porque nós íamos sempre muito cedo. Cinco horas, nós chegávamos sempre por volta das cinco horas. Cinco horas ainda estava a capela fechada. Estávamos ali encostadas à capela a dormir, todas por ali assentadas.
Vinha o homem, abria a porta, tudo ia fazer as suas coisas; ia fazer as suas romarias. Ia fazer as suas romarias. Quando foi hora de comer, a Hermínia... Tudo puxa por um bocado do que levou. Lá puxou pela cesta… Ela abre o tacho, diz ela assim:
- Que é isto? Ai, o que é isto?
Desculpem todos, mas eram cagalhotos de burro que ela tinha dentro do tacho! Ela apanhou, não viu de noite! Não viu, deitou para o tacho! Ela até dizia:
- O tacho já está mais cheio do que o que estava!
Mas porque aquilo era maior, as coisas eram maiores do que os bolinhos que ela tinha… Pronto, foi ao ar.
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Histórias partilhadas nos tempos de lazer e em festas e romarias. Actividades promovidas pelo Município.