Inventário PCI

Sobre Folhetos de Cordel

Alenquer

"Sobre Folhetos de Cordel" - Relato da vivência nas aldeias, no tempo em que os jovens se juntavam regularmente para ir aos bailes e aprendiam poemas e cantigas através de folhetos de cordel vendidos por cegos.

Mariana Monteiro, Ano de Nascimento 1942. Mata de Palhacana. Pereiro de Palhacana. 

Relato sobre práticas culturais

Transcrição

Sobre folhetos de cordel

E havia também umas pessoas que andavam nas feiras a vender uns folhetos de canções e anedotas. E a gente, assim que se apanhava com dois tostões ou três… Era dois tostões ou três tostões, conforme os versos. Eu tenho pena de os ter deitado fora, que eu tinha um molho de versos que era uma coisa linda!

Eram uns ceguinhos e a gente depois punha ou dois tostões, ou três tostões. Era um ceguinho. E andavam aqueles miúdos a vender os folhetos e a gente comprava aqueles folhetos. Era. Dois tostões, três tostões, conforme. Eu era novita. Novita mas bem novita! Pois. E depois eu não sabia ler, ã? Mas bastava as que sabiam ler, cantar e ler e eu aprendia tudo! Eu aprendia… Eu leio qualquer coisa sozinha! Sozinha! Não posso é esforçar a vista. Eu leio qualquer papel, qualquer coisa das novelas, ou qualquer coisa. Eu leio tudo, que eu aprendi sozinha!

Ia para uma festa. Sentavam-se ali às vezes montes delas, nos adros das igrejas. Cá há poucos adros de igrejas. E elas sentavam-se ali pela noite dentro, tudo ali sentado e uns a tocar concertina, outros a tocar guitarra, outros a tocar tambor… E assentavam-se por ali e cantavam versos e cantavam isto… Até há uns que eu perdi o fio à meada, não é? Eu aprendia tudo! Eu ia para casa, punha-me ali tuca tuca tuca tuca tuca tuca tuca tuca, aprendia tudo! Eu morei vinte e cinco anos em Leiria, eu conhecia Leiria… Agora não, porque já lá passei, já vi que aquilo está tudo… Credo… Está tudo modificado. Mas eu conhecia Leiria como conheço os meus dedos. Eu morava mesmo ao pé do Castelo de Leiria. A gente ajuntava-se muitas. Íamos… Aquilo tem muitas aldeias! Leiria tem muitas aldeias, muitas aldeias, muitas aldeias! Muitas aldeias! E havia festas. Todos os Domingos havia festa: aqui, ou ali, ou acolá. A gente ajuntava-se, tudo! Era tudo rapaziada nova e a raparigada ia para um lado, e os maridos… Quem tinha maridos, era maridos; quem tinha namorados, era namorados. E a gente assentávamos ali naqueles bailaricos e ouvíamos aquilo e aprendíamos. Eu aprendia tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo!

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
Sobre Folhetos de Cordel
1942
Mariana Monteiro
Trabalhadora agrícola

Contexto de produção

Contexto territorial

Mata de Palhacana, café local
Pereiro de Palhacana
Alenquer
Lisboa
Portugal

Contexto temporal

2013

Património associado

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Histórias partilhadas nos tempos de lazer e em festas e romarias. Actividades promovidas pelo Município.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Ana Sofia Paiva
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
Filomena Sousa
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL