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Poetas Populares de Grândola - Vídeo Poesia Popular.
“O 25 de Abril”- Poema de celebração do dia de 25 de Abril, dia do golpe militar que acabou com a ditadura em Portugal em 1974.
Paulatino Augusto; Ano de nascimento: 1929; Concelho de Grândola.
Registo 2007.
Décimas.
Classificação: Proposta por Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Julho de 2007.
Transcrição
«Já não podemos pensar no nosso regime(1) anterior.
O 25 de Abril(2) foi o dia de mais valor.
Quarenta e oito(3) de amargura.
Esses anos foram passando.
E o rico sempre gozando.
E o pobre a viver na penura(4).
Até que chegou uma certa altura,
que tudo se teve como ficar.
Começou o rico a pagar.
Porque queria comer sozinho.
Para diante é que é o caminho.
Pa’(5) trás não se pode voltar.
Há por aí tanta canalha(6),
sem a gente os conhecer.
E tanta gente a comer
À custa de quem trabalha.
Metem os pobres à palha.
A quem larga tanto suor!
Eu digo, seja a quem for,
que venham comigo falar.
Já não podemos pensar
no nosso regime anterior.
Daqui só pra(7) diante.
E não se pode voltar para trás.
Porque já abalou o Tomás(8).
E quem matou tanta gente.
Passou pelo Oriente
e foi ao caminho do Brasil.
Falava então o cetil(9) a favor da burguesia,
mas ao pobre deu alegria e o 25 de Abril.
Oh, que linda madrugada
Que veio ao nosso país.
E para o pobre ser feliz
quem manda é a Força Armada(10).
Uma coisa sem ser esperada!
Foi pò(11) pobre um grande amor.
Acabou-se com o rancor.
E começou-se com novas leis.
Que a véspera de vinte e seis
Foi o dia de mais valor.»
Paulatino Augusto, Grândola, Fevereiro de 2007
Glossário:
(1) Regime – referência ao regime político denominado por Estado Novo, ditadura que se viveu em Portugal entre 1933 e 1974.
(2) 25 de Abril – referência ao 25 de Abril de 1974, dia conhecido como Dia da Liberdade, data em que teve inicio a Revolução dos Cravos que derrubou o regime político do Estado Novo.
(3) Quarenta e oito – referência os 48 anos da II República Portuguesa – períodos da Ditadura Nacional (1926-1933) e do Estado Novo (1933-1974).
(4) Penura = penúria, pobreza extrema.
(5) Pa’ – abreviatura oral de “para”.
(6) Canalha – indivíduos desprezíveis e indignos, patifes.
(7) Prà – abreviatura oral de “para a”.
(8) Tomás – referência a Américo de Deus Rodrigues Tomás, Presidente da República de Portugal de 1958 a 1974, altura em que foi demitido e partiu para o exílio no Brasil.
(9) Cetil – Por hipótese, dinheiro (ceitil: antiga moeda portuguesa que valia um sexto de real).
(10) Força Armada = referência às Forças Armadas Portuguesas, responsáveis pelo golpe militar que derrubou o Estado Novo.
(11) Pò – abreviatura oral de “para o”.
Para a execução deste glossário consultaram-se as seguintes fontes: http://www.apotec.pt/fotos/editor2/ESTADO NOVO.pdf; http://portugal-info.com/historia/segunda-republica.htm; http://portugal-info.com/historia/terceira-republica.htm; http://www.priberam.pt; http://www.infopedia.pt; http://aulete.uol.com.br; http://www.presidencia.pt/?idc=13&idi=26
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Poetas populares em iniciativas esporádicas do Município de Grândola. Em Grândola, vários poetas populares participam na iniciativa Rota das Tabernas (16ª edição em 2010) realizada em Junho.
Existem vários Encontros de Poetas Populares, nomeadamente em concelhos do Alentejo e do Algarve.