Inventário PCI
Torres Vedras
"Quinta-feira de espiga"- Descrição das celebrações por altura do Dia da espiga, celebrado na Quinta-feira da Ascensão (trinta e nove dias após o Domingo de Páscoa).
Georgino Rodrigues, Ano de nascimento 1948,A-dos-Cunhados, Torres Vedras, Registo 2010.
Transcrição
Quinta-feira de espiga
Sobre a tradição da Quinta-feira da Ascensão… Realmente ali nas paradas, aqui há uns anos, fazia-se lá uma festa muito bonita; muito bonita. Aqui a Dona Júlia deve-se lembrar se eu for a dizer. Era em honra de Santo Isidro, o Lavrador, com uma juntazinha de bois. E então o padre levava a gente ali. Era muito bonito. Era uma festa campal, num pinhal. Havia, primeiro que nada, a celebração da missa. Ainda me lembro de eles até porem lá uma videira com um cachozinho pendurado e isso… Era muito, muito bonito. Muito cantado, muito bonito. E depois acabava a cerimónia religiosa e havia as ofertas, naquela altura não se via, mas as ofertas eram feitas por membros da acção católica e outros. E levavam realmente o trigo, o vinho, tudo para o altar – em procissão, atrás uns dos outros, levavam os produtos da terra, a oferecer ao Senhor.
E depois, no fim, realmente havia depois um lanche. Esse lanche era engraçado, porque as pessoas que iam para a festa é que levavam o lanche para fazer um piquenique. Pois, estendia-se uma toalha, sentava-se em volta, comia-se… E outros e outros, era tudo assim. Às vezes passava fulano: olha, queres isto? Ou: não queres aquilo? Pronto, oferecia-se às vezes duns aos outros.
E havia depois outros jogos. Havia a parte… Como é que hei-de dizer? Mais desportiva e de mais brincadeira, onde havia a corrida de sacos, que era rapazes dentro dos sacos a correr, aos saltos, a correr dentro dos sacos; havia o subir da vara, em que os rapazes subiam, tinham um volo lá em cima e eles a patinar, a querer subir aquilo por ali acima! Alguns não conseguiam – aquilo estava ensebado para eles não conseguirem!
Era tudo, tudo umas festas realmente muito bonitas, onde havia lá uma vez uma junta de bois – uma junta de bois com uma corda estendida – e vieram do Sobreiro Curvo vinte homens para ver se conseguiam que os bois tivessem mais força que eles, ou eles que os bois. Mas é que eles puseram ali e os bois, coitados, tiveram que ceder, tiveram que andar de arrecua. Faziam mais força, porque depois também houve outros que se ajuntaram e não sei quê – e cá vai disto! E eles, coitados, os bois não conseguiam andar com os homens a fazer força para trás, não é?
Havia assim realmente paródias… As carvalhadas! As carvalhadas era uma vara de um pinheiro ao outro com umas bilhas de barro penduradas, onde tinham… Uma estava cheia de areia, outra estava cheia de água, outra tinha um coelho, outra tinha um lagarto ou uma cobra… Depois eram os animais, naquele tempo, os burros; é que faziam as corridas de burros. Andavam em cima dos burros e com a varazinha – pum – batiam naquela bilha e caía no chão. Quando caía o lagarto ou a cobra, a malta toda a gritar! Mas o coitado do animal já estava estonteado, não se conseguia mexer, porque aquilo ficava assustado e caía, não é?
Era realmente coisas muito, muito bonitas. Isso perdeu-se tudo, nunca mais houve essa paródia assim. Era um dia bem passado, um dia muito bem passado. Pronto. As pessoas iam à missa, faziam um piquenique e nesse dia toda a gente tinha o seu raminho, não é? Levava o seu raminho. Os rapazes novos enfeitavam as bicicletas e isso, com os raminhos.
Georgino Rodrigues ,2010, Maceira ,Torres Vedras
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Encontros em festas e actividades promovidas pelo Município e Junta de Freguesia