Inventário PCI
Beja
“O genro bêbado”- Uma bebedeira leva um homem até à casa da sogra em vez da sua própria casa…
Olívia Brissos; Beringel; Concelho de Beja.
Registo 2006.
Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Junho de 2007
Transcrição
Havia uma rapariga que começou a namorar um rapaz logo de mocinha. E o rapaz, muito bom rapaz, fez-se homem e afinal deu em meter-se em bebida. E aquilo já não era *nada de jeito*(1).
Começou a mãe:
– Ó filha deixa-te disso! Tu não vês o resultado daquilo?! Na’ vês que o rapaz que *não dá meia para a esquerda*(2)?! É só beber, só beber!
Filha – Ah! E diga lá, atão(3)… Mas eu até gosto tanto dele! E há tantos anos que eu namoro.
Mãe – Mas é o mesmo! Havia de haver outro que tu gostasses…
Bom, a mãe toda zangada com a filha. Bom, mas ela pensou que havia de namorá-lo, foi sempre namorando. Até que um dia, veio e disse ela:
– Olhe, o Zé quer casar já este ano.
Mãe – Olha agora é que a gente fica bem! Ora um bêbado daqueles! E quer casar!
Filha – Sim, senhora!
Mãe – Nem casa hão-de ter! Comigo não ficam! – Isto era a mãe. – Comigo não ficam! Arranjem casa que comigo não ficam.
Filha – Ora! Atão diga lá… Olhe a vizinha Alice – a mulher tinha ido pra fora, prò estrangeiro – aluga aqui a casa à gente.
*Paredes meias*(4) com a mãe, mesmo ao pé da mãe. Disse ela:
– Olha *ainda mais essa*(5)! Ainda se fossem lá pra longe, ainda era comó outro(6)! Agora ficam-me aqui mesmo ao pé!
Filha – Atão, diga lá… Ele quer ficar mesmo aqui... Ele arranjou aqui a casa. A vizinha Alice empresta-lhe a casa e fica aqui.
Bom, trataram do casamento. Casaram e ficaram lá nesse sítio à mesma.
O rapaz logo em princípio de casado portou-se bem nessa altura, mas depois começou na mesma: sempre bêbado, sempre bêbado…
Uma noite, vem de lá, se havia de ir prà casa dele foi prà da sogra. Eram paredes meias. Deitou-se com ela e passou lá o resto da noite. Só se levantou quando eram horas de ir já prò trabalho. Levantou-se e ela – nem nada! Desejando vir a manhã pra dizer à filha o que ele andava fazendo.
Bom, assim que ele abalou(7) ela veio cá a casa (viu que ele já tinha ido para o trabalho) e disse:
– Atão! Tu sabes bem?! O desavergonhado do teu marido?! Atão foi pra lá, deitou-se comigo, abusou de mim e apois, de manhã, é que se veio embora!
Filha – Atão e você na’ lhe disse nada?!
Mãe – Eu não! Atão há dois anos que eu não falo com ele!
Ele fez-lhe poucas-vergonhas (8) e tudo e ela na’ lhe disse nada porque não falava com ele!
Olívia Brissos, Beringel (conc. Beja), Fevereiro de 2006.
Glossário
(1) Nada de jeito: refere-se no caso a pessoa sem valor da qual pouco se espera.
(2) Não dá meia para a esquerda: não consegue; não evolui.
(3) Atão: regionalismo de Portugal, de uso informal e coloquial que significa “então”.
(4) Paredes meias: separado com uma parede;paredes comuns a edifícios contíguos.
(5) Ainda mais essa! Expressão que designa uma notícia mal recebida ou considerada prejudicial.
(6) Ainda era como o outro! Ainda era aceitável.
(7) Abalou: foi-se embora.
(8) Poucas-vergonhas: actos vergonhosos; imoralidades.
Para execução deste glossário consultaram-se os websites e dicionários: http://www.priberam.pt/; http://www.infopedia.pt; http://www.ciberduvidas.com; http://acll.home.sapo.pt/portugues.html; Simões, de Guilherme Augusto. (2000). Dicionário de Expressões Populares Portuguesas.2ª. Edição, Dicionários D. Quixote; 34. Lisboa: Publicações D. Quixote, p. 44 e 457.
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Contadores de histórias que participam em iniciativas do Município de Beja. São convidados na iniciativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.