Inventário PCI

Campo Maior

Campo Maior (sobre Campo Maior, mas gravado em Lisboa - Casa do Alentejo)

"Campo Maior"- Poema sobre as memórias de vivência em Campo Maior.

Rosa Dias, Ano de nascimento 1947, Lisboa, Registo 2012.

Poesia Popular

Transcrição

Campo Maior

Em Campo Maior

Vila do Alto Alentejo

Planície de trigais

Cercada de boa terra

De afamados olivais

Onde me vejo e revejo

Nesse meu lindo Alentejo

Onde nasceram meus pais

Morei numa casa velha

Na piçarra do castelo

Velha mas branquinha e bela

Onde eu tive uma varanda

No lugar duma janela

E nas traseiras da casa

Onde o sol batia em brasa

Havia a dita varanda

Onde em noites de Verão

E tardes de sol de Inverno

Batia o meu coração

Como quem está no Inferno

Inferno sim, mas de prazer

Pois posso agora dizer

Que aquilo que então sentia

Dava-me tanta alegria

Tanta força para viver

E nessa bela varanda virada ao sol nascente

Havia vida, havia gente

Gente que chorava, gente que ria

Gente por demais conformada

Com a miséria que havia

Debruçados na varanda

Onde o ar entra e comanda

Havia vasos de latas

Enfeitados com flores

Das mais variadas cores

Fazendo-me então parecer

Que eu estaria a viver

Num jardim de nobres senhores

Ou num palácio tão belo

Dentro de nobre castelo

Se José Régio disse então

Que tinha por diversão

Uma pequena varanda

Diante de uma janela

Toda aberta ao sol que abrasa

Ao frio que tolhe e gela

Ao vento que anda, desanda

E sarabanda e ciranda

Em redor da sua casa

Porque não poderei eu dizer

Que em Campo Maior

Vila do Alto Alentejo

Planície de trigais

Cercada de boa terra

De afamados olivais

Onde me vejo e revejo

Nesse meu lindo Alentejo

Onde nasceram meus pais

Também tive uma varanda

Numa casa bela mas velha

E como o vento ciranda

Vida de pobre desanda

E tantas vezes sarabanda

Não pude ter uma janela

Mas em frente à pobre casa

Uma bela torre se erguia

Com traços de fidalguia

Lá bem no alto uma janela

Uma janela manuelina

Onde esta pobre menina

Em sonhos e fantasia

Àquela torre subia

Debruçava-me à janela

Resplandecia alegria

Bela janela arrendada

Numa torre abandonada

Em frente da pobre casa

Aonde quase sempre abrasa

Era fogueira apagada

Mas a menina sorria

E guardou no coração

Aquela recordação

E hoje, com uma certa nostalgia

Conto através de poesia

A história que será lenda

De uma pequena varanda

Onde o sol batia em brasa

Onde o vento ainda anda

E sarabanda e ciranda

Ao redor da minha casa

 

Informante: Rosa Dias

2012/Campo Maior

 

 

 

 

 

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
Campo Maior
1947
Rosa Dias

Contexto de produção

Contexto territorial

Casa do Alentejo - Lisboa
Santa Justa
Lisboa
Lisboa
Portugal

Contexto temporal

2012

Património associado

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Poesia Popular da autora transmitida por livro e recitada em diversos eventos culturais.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Ana Sofia Paiva
Registo vídeo / audio
Catarina Machado
Entrevista
Ana Machado
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL