Inventário PCI
Campo Maior (sobre Campo Maior, mas gravado em Lisboa - Casa do Alentejo)
"A minha casa"- Poema sobre as memórias da casa de infância no Alentejo.
Rosa Dias, Ano de nascimento 1947, Lisboa, Registo 2012.
Transcrição
A minha casa
Minha casa, minha casa
Que linda era a minha casa
O quarto era enorme
Duas camas de casal
Aos pés das camas havia
Há muito tempo, vazia
Uma mala de enxoval
Entre as camas, uma banquinha
Banquinha de cabeceira
Em cima… Em cima uma luz fraquinha
Dando luz a noite inteira
Encostadas à parede e à cama de minha mãe
Duas cadeiras fazendo berço
Onde o mais pequenininho dormia que nem um rei
Ao som da reza dum terço
Lá nas traves penduradas
Havia marmelos, melões
Uvas que nos eram dadas
Para as grandes ocasiões
Iam-se os olhos no tecto
Na esperança que alguma coisinha
Viesse a nós de algum jeito
Consolar a barriguinha
Na portinha para a varanda
Uma cordice[1] pendurada
Tapando o sol que rompia
Por entre as frisgas[2] da porta
Anunciando outro dia
Na madrugada avançada
Na outra porta sem porta
Outra cordice pendia
Filtrando o cheiro a café
Que a minha mãe já fazia
Na velhinha chocolateira
Ao lume na chaminé
Numa caminha redonda
Minha mãe, ó doce mãe
Repartia preocupada
Sertã de miga tostada
Não só o quinhão dos filhos
Mas o seu quinhão também
Enquanto isto se passava
Lá nas traseiras da casa
Onde o sol sorria em brasa
Sorria bem altaneira
Uma pequena varanda
Sobre a muralha velhinha
Onde eu era princesa
E a minha mãe… A minha mãe, a rainha.
Informante: Rosa Dias
2012/Campo Maior
[1] Cortina.
[2] Frestas
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Poesia Popular da autora transmitida por livro e recitada em diversos eventos culturais.