Inventário PCI
Beja
“Passeando D.Maria”- Uma princesa perversa, que quer casar, pede ao rei que mande um conde matar a sua esposa para que com ela possa casar.
Mariana Bicho; Salvada; Ano de nascimento: 1938; Concelho de Beja.
Registo 2010.
Romance: Romances de Amor Infeliz: O Conde Alarcos
Classificação: Isabel Cardigos (CEAO/Universidade do Algarve) em Setembro de 2011
Fonte da Classificação: Maria Aliete Galhoz em Idália Farinho Custódio, Maria Aliete Farinho Galhoz, Isabel Cardigos, Romances : Património Oral do Concelho de Loulé, vol.II, Loulé, 2006, CM Loulé, pp.59.
Transcrição
[Passeando Dona Maria]
Passeando Dona Maria por o se’(1) corredor acima,
tocava na sua guitarra, divertia-se sozinha.
O se’ pai, rei, acordou ao som que ela fazia.
- E o que queres, Dona Condessa? E o que queres, Dona Maria?
- De três irmãs que nós éramos, só eu sou a solteria(2).
- Como queres que t’ case, com tamanha assenhoria(3)?
Com o conde? Que é conde, é casado, tem família?
- Esse mesmo é que ê’(4)quero. E esse mesmo é que ê’ queria.
Ainda a palavra na’(5) era dita, já ele à porta batia.
- O que queres, Dona Condessa? E o que queres, Dona Maria?
- Quero que mates tua mulher, pra casar com Dona Maria.
- Isso na’ faço eu Condessa, que o pai dela lá sabia.
E quero que me tragas a cabeça nesta dourada bacia.(…)
Quando à casa chegou, ele mandou pôr a mesa.Para fazer que comia.
Mandou vestir as criadas de luto à Mouraria.
As lágrimas eram tantas que pelo (…) escorriam.
- Conta conde, conta conde! Conta da tua agonia.
- Se eu te contasse, Condessa, muito triste ficarias.
Querem que te mate a ti pra casar com Dona Maria.
- Vai-me levar ao me’(6)pai , que o me’ pai me aceitaria. (…)
- Querem que leve a cabeça nessa malvada bacia.(…)
- Deixa-me dar um passeio, da sala para o jardim,
adeus cravos, adeus rosas, adeus flores do alecrim.
Deixa-me dar um passeio, da sala para a cozinha,
adeus cravos, adeus rosas e adeus criadas minhas.(…)
Mamai, me’ filho, mamai, esta pinga de amargura.
Amanhã, por estas horas, ‘tá sua mãe na sepultura.
Mamai, me’ filho, mamai , esta pinga de Genebre(?)
Amanhã, por estas horas, já se’ pai é rei c’roado(7). (…)
Soa nos sinos da corte. E, ai Jesus, quem morreria?
Respondeu-le(8) o filho de sete de meses, só mamava e na’ comia:
- Foi a filha delrei, chamada Dona Maria,
roubar os filhos às mães é coisas que Deus na’ queria.
Foi a justiça do Céu, que cá na terra na’ havia. (…)
Mariana Bicho, Beja, Outubro de 2010
Glossário:
(1) Se’ –seu ((houve supressão do u para reprodução de pronúncia, uso coloquial).
(2) Solteria – solteira (mulher que não ainda não casou).
(3) Assenhoria – senhoria - tratamento que se dava à alta nobreza; excelência.
(4) Ê' – eu (houve acentuação do e e supressão do u para manter a pronúncia).
(5) Na' - não (houve supressão da acentuação e do o para reproduzir a pronúncia).
(6) Me’ – meu (houve supressão do u para reprodução de pronúncia, uso coloquial).
(7) C'roado – coroado (houve supressão do o para reprodução de pronúncia, uso coloquial).
(8) -Le – lhe (pronome, registo popular e modo informal).
(9) Q'ó – que o.
Referências bibliográficas e recursos online utilizados no glossário:
Barros, Vítor Fernandes & Guerreiro, Lourivaldo Martins. (2005). Dicionário de Falares doAlentejo. Porto: Campo das Letras p.38.
Barros, Vítor Fernandes, (2010). Dicionário de Falares das Beiras. 1ª. Edição. Lisboa: Âncora Editora e Edições Colibri, p.243.
Vasconcelos, José Leite de/Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Dicionário de Regionalismos e Arcaísmos (DRA). Em linha, URL/PDF, http://alfclul.clul.ul.pt/clulsite/DRA/resources/DRA.pdf, p.720.
http://aulete.uol.com.br;http://michaelis.uol.com.br;http://www.ciberduvidas.com;http://www.infopedia.pt;
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.
Contexto de transmissão
Contadores de histórias que participam em iniciativas do Município de Beja. São convidados na iniciativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.