Inventário PCI
O Pintar e Cantar dos Reis - o ritual começa pela constituição do grupo que anualmente, na noite de 5 para 6 de janeiro, se reúne sem ensaios ou combinações elaboradas. O grupo junta-se espontaneamente e parte pelas ruas da povoação. Os membros que vão pintar seguem à frente e, em silêncio, munidos das tintas, pincéis e lanternas pintam as fachadas das casas com os tradicionais desenhos dos Reis. Mais atrás seguem, em maior número, os cantores o coro e o "apontador" que, em Catém, trazem o "segredo" cantado à fechadura da porta .
O Pintar e Cantar dos Reis tem em Portugal a sua maior expressão no concelho de Alenquer e em 2016 a celebração realizou-se em 9 povoações deste município, entre elas Catém.
Transcrição
Caraterização
O PINTAR E CANTAR DOS REIS EM CATÉM*
*Resumo - ver versão completa, anotada e com fotografias no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 25-36).
Em 2016 o grupo, de 10 cantores e 3 pintores, juntou-se na noite de 5 para 6 de janeiro, terça-feira, entre as 22h e as 23h e partiram para dar início à tradição nos Casais vizinhos voltando depois à povoação. Os pintores seguem à frente com as tintas e pincéis, o apontador canta as quadras junto às portas, num sussurro, e o coro repete os versos por ele lançados. Costumam terminar pelas 3h da madrugada e no final o grupo está reduzido a metade dos elementos.
Durante toda a noite os pintores desenham diferentes símbolos nas fachadas das casas - o desenho de vasos e corações com flores alusivos à composição do agregado familiar; os desenhos representativos das profissões e doutras atividades dos habitantes; o Vaso do Grupo dos Reis, as inscrições alusivas aos Reis - Bons Reis V.R (Viva a Républica) e a "Era" (o ano da celebração). As cores tradicionalmente utilizadas no ritual são o vermelho almagre e o azul de anilina.
A cantiga é composta por 3 quadras. Todas são primeiro sussurradas pelo apontador e cantadas depois em alta voz pelo coro. As duas primeiras quadras são sobre a viagem dos Reis, a terceira e última quadra anuncia os votos de Boas Festas e termina com dois versos petitórios. No final acrescentam: Pràs Almas!
O Peditório dos Reis acontece no domingo do fim-de-semana a seguir ao Dia de Reis. Um grupo de 4 a 6 homens vão casa a casa recolher a verba que servirá para mandar dizer uma Missa pelas Almas do Purgatório na Igreja de Meca e para pagar um almoço aos membros do grupo.
A ORIGEM E HISTÓRIA DO PINTAR E CANTAR DOS REIS*
*Resumo - ver versão completa e anotada no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 17-24).
No século IV as celebrações da Epifania do Oriente chegam à Europa. Na Igreja do Ocidente o auto dos Magos difunde-se massivamente, auto esse que ao longo dos tempos sofre várias modificações dando origem a outro tipo de manifestações: práticas realizadas usualmente no espaço público, dirigidas por populares e que incluíam desfiles pelas ruas, peditórios acompanhados por bênçãos e versões resumidas e musicadas do auto por exemplo o Cantar dos Reis em Portugal, os Vilhancicos em Espanha e o Cantar da Estrela na Alemanha (Coelho, org. Leal, 1993; Peixoto, 1995; Weiser, 1952).
Associada à cerebração da Epifania está a tradicional Bênção do Giz (descrita no antigo Ritual Romano) - uma cerimónia que utiliza um giz abençoado para, no dia 6 de janeiro, se inscreverem as iniciais CMB ( Christus Mansionem Benedicat ) e o ano nas portas. Ritual de onde pode provir o costume de, na Noite dos Reis, se pintarem votos de felicidades à entrada das casas.
Na Península Ibérica o Dia de Reis começa a ser celebrado devido à chegada dos Frades Franciscanos e Dominicanos a este território. Este facto permite sublinhar a importância de Alenquer no processo de difusão desta celebração. Em Portugal, foi na região do concelho de Alenquer que estas Ordens foram primeiramente acolhidas entre 1212 e 1218 Frei Zacarias chega a Alenquer para fundar um convento Franciscano e Frei Soeiro Gomes, primeiro provincial dominicano da Península Ibérica (1221-1223) funda, no termo do concelho de Alenquer, no alto da Serra de Montejunto, o primeiro convento Dominicano português.
Identificação
Contexto de produção
Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.
Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.
Ações promovidas pelo Grupo dos Reis de Catém:
Garantir a execução do Pintar e do Cantar dos Reis na sua povoação; Garantir a transmissão da prática, motivando e ensinando as gerações mais novas; Reunir os recursos necessários para a execução da expressão cultural (materiais e humanos); Associar-se como parceiros às ações de salvaguarda promovidas pela Câmara Municipal.
Ações promovidas pela Câmara Municipal de Alenquer:
Apoio logístico aos Grupos dos Reis do concelho de Alenquer; Estudo e Inventariação do Pintar e Cantar dos Reis no concelho de Alenquer (2016); Realização de um documentário sobre a expressão cultural (2016); Publicação de um livro sobre a expressão cultural; Continuação da organização dos Encontros sobre o Pintar e Cantar dos Reis entre os membros de todos os grupos (já promovidos em 2013, 2014, 2015 e 2016) Continuação da organização do "Roteiro Turístico Noturno" - que permite assistir ao Pintar e Cantar dos Reis em várias povoações, na noite de 5 para 6 de janeiro. Atividade promovida com o consentimento dos Grupos e respeitando o recato da manifestação (já promovido nos anos de 2015 e 2016).
Em Catém várias gerações estão envolvidas na organização da tradição. A comunidade não considera a celebração em risco ou ameaçada e a transmissão geracional dos conhecimentos e práticas encontra-se atualmente assegurada pelo Grupo dos Reis de Catém.
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
>Em Catém realiza-se no fim-de-semana seguinte ou no segundo fim-de-semana depois da celebração o Peditório dos Reis pelas casas das povoações. O resultado desse peditório serviu para mandar rezar uma Missa pelas Almas do Purgatório e para organizar um almoço para todos os elementos do grupo.
Não se aplica.
Não se aplica.
Contexto de transmissão
Conhecedor do ritual, o apontador é usualmente o elemento que assume o papel de porta-voz do grupo e partilha com o pintor mais velho e com os elementos mais dedicados ao grupo a responsabilidade de manter a prática transmitindo-a às novas gerações.