Inventário PCI
O Pintar e Cantar dos Reis - o ritual começa pela constituição do grupo que anualmente, na noite de 5 para 6 de janeiro, se reúne sem ensaios ou combinações elaboradas. O grupo junta-se espontaneamente e parte pelas ruas da povoação e casai vizinhos. Os membros que vão pintar seguem à frente e, em silêncio, munidos das tintas, pincéis e lanternas pintam as fachadas das casas com os tradicionais desenhos dos Reis. Mais atrás seguem, em maior número, os cantores o coro e o apontador que, em Paúla, cantam a alta voz em locais estratégicos, para várias casas.
O Pintar e Cantar dos Reis tem em Portugal a sua maior expressão no concelho de Alenquer e em 2016 a celebração realizou-se em 9 povoações deste município, entre elas está Paúla.
Transcrição
Caraterização
O PINTAR E CANTAR DOS REIS EM PAÚLA*
*Resumo - ver versão completa, anotada e com fotografias no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 88-93).
Em Paula são cerca de 20 pessoas que se juntam, 2 ou 3 trios de pintores que vão à frente e os apontadores e o coro que seguem atrás. Há 4 anos as mulheres começaram a participar na celebração. Cantam em cerca de 12 sítios e durante todo o percurso vários moradores abrem as portas e servem uma mesa" com bebidas e bolos.
Atualmente a pintura que se faz em Paúla é um vaso florido, junto com a sigla BF (Boas Festas) - uma letra de cada lado do vaso - e por baixo o ano da celebração. Para fazerem esse vaso utilizam um molde. Quando não há tempo ou não se lembram de fazer o molde, alguém com mais jeito faz o desenho mesmo sem molde (Sandra Pintéus, 2015).
Os cantores organizam-se em semicírculo com o apontador ligeiramente destacado do grupo. O apontador canta uma quadra e o coro repete. Na última quadra o coro repete os dois últimos versos. A letra é composta por 10 quadras - 36 versos sobre a viagem dos Reis Magos mais 4 versos com votos de felicidades aos moradores. Em Paúla, há 2 anos, o grupo introduziu um novo elemento à celebração, um dos membros passou a acompanhar os cantores com guitarra.
Atualmente não realizam o peditório, às vezes realizam um jantar ou almoço de convívio.
A ORIGEM E HISTÓRIA DO PINTAR E CANTAR DOS REIS*
*Resumo - ver versão completa e anotada no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 17-24).
No século IV as celebrações da Epifania do Oriente chegam à Europa. Na Igreja do Ocidente o auto dos Magos difunde-se massivamente, auto esse que ao longo dos tempos sofre várias modificações dando origem a outro tipo de manifestações: práticas realizadas usualmente no espaço público, dirigidas por populares e que incluíam desfiles pelas ruas, peditórios acompanhados por bênçãos e versões resumidas e musicadas do auto por exemplo o Cantar dos Reis em Portugal, os Vilhancicos em Espanha e o Cantar da Estrela na Alemanha (Coelho, org. Leal, 1993; Peixoto, 1995; Weiser, 1952).
Associada à cerebração da Epifania está a tradicional Bênção do Giz (descrita no antigo Ritual Romano) - uma cerimónia que utiliza um giz abençoado para, no dia 6 de janeiro, se inscreverem as iniciais CMB ( Christus Mansionem Benedicat ) e o ano nas portas. Ritual de onde pode provir o costume de, na Noite dos Reis, se pintarem votos de felicidades à entrada das casas.
Na Península Ibérica o Dia de Reis começa a ser celebrado devido à chegada dos Frades Franciscanos e Dominicanos a este território. Este facto permite sublinhar a importância de Alenquer no processo de difusão desta celebração. Em Portugal, foi na região do concelho de Alenquer que estas Ordens foram primeiramente acolhidas entre 1212 e 1218 Frei Zacarias chega a Alenquer para fundar um convento Franciscano e Frei Soeiro Gomes, primeiro provincial dominicano da Península Ibérica (1221-1223) funda, no termo do concelho de Alenquer, no alto da Serra de Montejunto, o primeiro convento Dominicano português.
Identificação
Contexto de produção
Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.
Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.
Ações promovidas pelo Grupo dos Reis da Paúla:
Garantir a execução do Pintar e do Cantar dos Reis na sua povoação; Garantir a transmissão da prática, motivando e ensinando as gerações mais novas; Reunir os recursos necessários para a execução da expressão cultural (materiais e humanos); Associar-se como parceiros às ações de salvaguarda promovidas pela Câmara Municipal.
Ações promovidas pela Câmara Municipal de Alenquer:
Apoio logístico aos Grupos dos Reis do concelho de Alenquer; Estudo e Inventariação do Pintar e Cantar dos Reis no concelho de Alenquer (2016); Realização de um documentário sobre a expressão cultural (2016); Publicação de um livro sobre a expressão cultural; Continuação da organização dos Encontros sobre o Pintar e Cantar dos Reis entre os membros de todos os grupos (já promovidos em 2013, 2014, 2015 e 2016) Continuação da organização do "Roteiro Turístico Noturno" - que permite assistir ao Pintar e Cantar dos Reis em várias povoações, na noite de 5 para 6 de janeiro. Atividade promovida com o consentimento dos Grupos e respeitando o recato da manifestação (já promovido nos anos de 2015 e 2016).
Em Paúla várias gerações estão envolvidas na organização da tradição. A comunidade não considera a celebração em risco ou ameaçada e a transmissão geracional dos conhecimentos e práticas encontra-se atualmente assegurada pelo Grupo dos Reis. São visíveis, contudo, alterações que podem colocar em risco a elaboração dos desenhos tradicionais realizados à mão (os desenhos alusivos a certas atividades profissionais e versos alusivos, por exemplo, ao Largo de Espanha). Os desenhos têm sido substituídos pela inscrição das siglas BF junto ao ano e ao vaso florido.
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Instrumentos para pintura - antigos moldes dos vasos.
Não se aplica.
Contexto de transmissão
Conhecedor do ritual, o apontador é usualmente o elemento que assume o papel de porta-voz do grupo e partilha com o pintor mais velho e com os elementos mais dedicados ao grupo a responsabilidade de manter a prática transmitindo-a às novas gerações.