- "(...) Havia lá na volta da quinta...

Tinham medo de lá passar, que apareciam lá umas coisas à volta da quinta. Metiam aquilo na cabeça à gente, aos mais novos, e depois ficaram com aquilo: «Ai, olha que aqui aparece aquilo» ou «Acolá aparece aquilo.». Era sempre assim.

Quando eu comecei, era moço, tinha de ir ao contrabando para Espanha com a carga às costas nunca apareceu nada."

- "Pois eu morava numa casa, (...) numa ilha. Dava uma rua à outra. Dava uma rua à outra estrada do lado do mar. E um dia, antigamente nem havia quartos de banho nem nada, como se sabe, e eu e um irmão meu (...) tínhamos acabado de comer. Nós fomos comer, acabámos de comer, e fomos fazer chichi atrás de um muro. E eu olhei, antes de chegar atrás do muro, olhei e vi uma cara de uma criança, de uma menina pequenina, só a cabeça, em cima do muro. Em cima do muro que tinha para aí 3 metros. Mas não se via nada, só via a cabecinha pousada. E eu fiquei assim parada, não me assustei nem nada, fiquei ali parada a olhar para ali muito séria. Depois, daí chegou o meu irmão, eu disse assim: 

«- Zé, olha para ali para cima.»

Ele olhou e assim que viu aquilo começou a fugir. Eu, como ele fugiu, fugi também! Chegámos a casa, contámos à minha mãe.

«- Mãe, sabes em cima daquele muro estava a cabeça de uma menina a espreitar.»

Nós ainda éramos pequenos. Diz ela assim:

«- Não era nada, isso era impressão vossa. Não era nada. Não era nada! Essa era a vossa impressão.»

Por causa de eu não ter medo disseram que não era nada, mas eu vi com os meus olhos. Eu vi com os meus olhos. Como é daqui ali àquela coisa, estava aquela cabecinha daquela criança pousada ali em cima."