Inventário PCI
Ritual pascal
Ritual para a Semana Santa (alumiar às Almas)
Transcrição
- "Era quando era do interlúdio para a Páscoa."
- "Da Morte do Senhor?"
- "Sim."
- "Saia ao portão e encostava-se a uma parede, a um muro..."
- "E gritava."
- "E gritava. E depois vinha o Ernesto, o João e outros e tiravam-lhe o barrete."
- "E fugiam com o barrete."
- "Mas era a cabeça deles, que eram burros, não se devia fazer isso."
- "Mas era qualquer dia ou era na Quarta-feira Santa?"
- "Não, era todos os dias!"
- "Todos os dias fazia isso."
- "Tirava aquela altura..."
- "É como o toque de reza?"
- "Ao Carnaval?"
- "Sim! E depois era até à Páscoa."
(...?)
- "Alumiar as almas."
- "Mas dizia:
«Alerta, alerta! Que a morte é certa!
Hoje em figura, amanhã na sepultura!».
Era o que ele ia lá para a parede.
- "Alerta, alerta! Que a morte é certa!
Hoje em figura e amanhã na sepultura!"
- "E três Avé Marias!"
"Alerta, alerta! Que a morte é certa!
Quem é rico e tem dinheiro,
Faço-lhe o ofício inteiro!
Quem é pobre e é velhaco,
Atira-se para o buraco!" [Risos]
- "Como dantes o toque da reza - que agora falei nele, acabou - mas ia todos os dias ao escurecer um homem tocar o sino, para a gente rezar em casa."
- "Em (...?) ainda toca."
- "Ainda toca?"
- "Toca."
- "Aqui nunca mais."
- "Eu estou lá à minha porta e ouço."