Inventário PCI
Histórias de mouras encantadas, tentativas de as desencantar e tesouros quase encontrados.
Lendas do sobrenatural (mouras encantadas e tesouros)
Transcrição
- "Uma lá em Cristelo, no alto do Crasto, que tentaram lá ir desencantar, mas que... Que fizeram um sino Salomão, que têm de fazer para desencantarem as mouras, um sino [signo] Salomão no chão. E depois têm de ir para dentro daquele sino Salomão e [ler] o livro de São Cipriano - há quem tenha o livro de São Cipriano. Nós lá, tinha (...) o tio Zé do Porto e o doutor de Vidão é que lhe ficou com ele.
E lá numa freguesia vizinha nossa lá à beira, não foi na nossa, mas foi numa freguesia vizinha, diz que tentaram (...) ler o livro de São Cipriano e não conseguiram. Diz que começaram a aparecer labaredas e bichos e tudo."
- "Isso uma moura, para a desencantar, acho que não é fácil."
- "E que não conseguiram desencantar. Diz que não. O meu pai é que contava, também. Acho que era o meu pai. E quando contava o meu pai também contava o teu, que eles eram irmãos.
Que uma vez passaram por uma senhora que estava na beira de um caminho, com uma cesta. E que tinha muitas coisinhas, miudezas: alfinetes, tesouras, agulhas. Que tinha dentro da cestinha muitas coisas.
E que passou uma pessoa, que ficou a olhar, e ela que lhe disse:
«- Escolha uma das coisas, escolha. Para levar, escolha.».
E essa pessoa que disse:
«- Então levo umas tesouras.».
E ela que disse:
«- As tesouras querias a língua cortada com elas.»."
- "Queria que a escolhessem a ela, não era?"
- "Não queria que escolhessem as tesouras, era outra coisa. E desapareceu nessa hora.
Em vez de a desencantar ainda a encantou mais, coitada."
- "Ficou perra!" [Risos]
- "Lá naquelas laboeiras, por cima do tio Mino Morgado, onde agora passou a estrada. (...) Havia uma mó de um moinho e debaixo dessa mó do moinho havia qualquer coisa encantada lá. E a mó do moinho desenterrou-a o meu pai, mas o meu pai não sabia, não viu o rasto." [Risos]
- "E não desencantou a moura!"
- "A mó do moinho ainda há pouco lá estava, agora é que a tiraram, não sei lá onde é que a levaram. Aquilo roubaram, levaram-na para alguma coisa.
O meu pai desenterrou a mó do moinho. Isso estava no livro de São Cipriano. Ele depois veio a descobrir, desde que já tinha desenterrado essa mó do moinho, que nessas tais leiras (...) que eles chamavam as leiras do Sino, diz que antigamente que houve lá uma igreja."
- "Não. A mãe é que diz que foi lá fundido o sino ou não sei quê."
- "Qualquer coisa que chamavam-lhe as leiras do Sino. (...) Chegaram a ler nesse livro de São Cipriano, que contava a história que nessas leiras do Sino que estava uma mó do moinho enterrada e que por baixo da mó do moinho que tinha lá qualquer coisa escondido das mouras. Mas o meu pai só viu a mó do moinho, não viu o resto." [Risos]
- "A moura estava por baixo."