Inventário PCI
História sobre uma mulher acusada de traição, que sobrevive no meio do bosque alimentando-se de leite de uma corça.
Recordação fragmentária de um conto novelesco
Transcrição
- "Estávamos a falar de um outro conto, não era? Que era aquele conto da Genoveva."
- "Ai, esse é tão triste."
- "Triste? Mas tu disseste que esse era muito antigo, não era?"
- "Era."
- "Quem é que te ensinou esse conto? (...) Quem é que contava, antes, esse conto? Como é que aprendeste?"
- "Eu tinha o folheto. O marido estava na guerra. Depois quando o marido veio é que lhe contaram uma história. (...) O criado contou que ela que queria se meter com ele e ele é que se queria meter com ela.
Levaram-na para o meio de uns penedos e de uns pinheiros. E depois disseram: «Se tiver algum segredo diga, senhora. Ou a matamos, é a ordem que temos, ou tem que ficar aqui no meio dos penedos.».
Ela, morrer não queria. Olhou para eles e pediu-lhe para ficar ali. Eles foram embora."
- "Ela depois foi salva por quem? Por uma corça que apareceu? Não havia uma corça nessa história?"
- "E ela ficou lá encostadinha, sem ninguém. E depois à noite estava ali no meio dos penedos, sozinha. E depois à noite apareceu lá uma corça a ir para o ninho e ela meteu-se para lá também. E a corça dava leite que ela mungiu para umas cabaças e umas coisas que tinha lá, para beber. E ficou lá. Ficou lá 7 anos.
Ele, depois, veio da guerra. E o criado é que se queria meter com ela e mandou-a prender na torre do castelo, numa torre do castelo. E ela esteve lá e teve lá um menino. Teve lá um menino, ela. Teve, teve. No final, teve."