Inventário PCI
Relatos sobre duas burlas de João Salgueiros
Memórias populares (anedotas; “partes”) atribuídas a um personagem típico local considerado “espertalhão”. A narrativa nº [1] pode-se classificar como uma variante do ATU 1563 “Both?”
Transcrição
Ali em Coura, [o João Salgueiro] entrou lá numa taberna que ele conhecia e tal. Na parte de cima estava pessoal a jogar às cartas e estava o patrão a jogar às cartas. Em baixo estava um empregado. E então ele disse:
– Olha... - chegou à hora que lhe convinha - que horas são?
– São dez.
– Está bem.
Vai para baixo e diz ele ao empregado:
– Olha, o teu patrão diz para me dares dez moedas.
– O quê?
– Não acreditas? Vai ali às escadas [e pergunta]
– Quantas? Quantas são?
– Dez!
Ele pega nas 10 moedas e [foi-se embora].
- "Eu também tenho uma história dele."
- "É preciso ter já..."
- "Artimanha!"
[2]
Fez outra lá, (...?) que foi aquela dos pinheiros. Que ele passou junto a um caminho onde estavam uns madeireiros com o dono do pinhal a fazer negócio de vender o pinhal ao madeireiro. Ele passou e diz que mais abaixo havia outra tomada, naquele tempo era tudo montes junto aos caminhos. E viu lá outra tomada, salta para dentro e começa a ajeitar umas pedrinhas no muro.
Esses madeireiros lá terminaram o negócio com o outro e foram por aí abaixo. Diz que chegaram e:
– O senhor, bom dia, boa tarde!
– Boa tarde!
– Você não quer vender esses pinheiros?
– Ó, até vendo!
Então diz que primeiro fez assim, fez-se dono a ajeitar a propriedade. A atirar umas pedras assim para fora e tal:
– Raios parta a canalha, dá-me cabo disto! Até vendo! - e tal.
Diz que fizeram negócio. Recebeu o sinal - que naquele tempo geralmente sinalizavam logo - e veio-se embora. Depois a história foi que quando foram para cortar os pinheiros é que desvendaram aquilo tudo, mas ele já andava [longe].
Eram assim, estas coisas.